Por que “acidentes” envolvendo o Azerbaijão sempre acontecem quando Moscou está irritada

Ataques próximos a embaixadas, danos a instalações e episódios diplomáticos levantam dúvidas sobre o padrão de retaliação da Rússia

Quando a Rússia está irritada, “acidentes” continuam acontecendo. Ao menos é o que sugerem os episódios que envolvem instalações diplomáticas e interesses estratégicos do Azerbaijão desde 2022. As informações são do The Moscow Times.

Em 14 de novembro, o Ministério das Relações Exteriores do Azerbaijão convocou o embaixador russo depois que a embaixada de Baku em Kiev foi atingida durante ataques com drones e mísseis. A explosão destruiu parte da cerca, danificou veículos e afetou edifícios da missão diplomática. Não houve feridos. Moscou não assumiu responsabilidade pelo ataque, que ocorreu logo após o presidente Ilham Aliyev receber uma delegação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e mencionar a ampliação dos laços com a aliança.

Bandeira do Azerbaijão hasteada em Martyrs’ Lane, em Baku, capital do país (Foto: WikiCommons)

A relação entre Baku e Moscou vinha se desgastando desde que o Azerbaijão passou a reforçar laços econômicos com a China. O ataque a um avião da Azerbaijan Airlines, seguido de um pedido público de desculpas da Rússia, já havia acendido alertas. A principal dúvida persiste: por que a aeronave foi desviada para Aktau, e não para Grozny, como seria esperado?

As tensões também aumentaram após o encontro entre Aliyev e o presidente russo em outubro, quando o Azerbaijão foi surpreendido por relatos de uma tentativa de golpe supostamente apoiada por Moscou e atribuída ao ex-assessor presidencial Ramiz Mehdiyev. À medida que aliados do ex-assessor eram detidos, outro suposto “acidente” entrou na lista.

Incidentes semelhantes vêm ocorrendo desde o início da guerra na Ucrânia. Em março de 2022, o Consulado Honorário do Azerbaijão em Kharkiv sofreu danos em um ataque aéreo que destruiu o carro oficial da sede. Pouco depois, Baku havia optado por não apoiar Moscou e enviado ajuda humanitária a Kiev.

Em janeiro de 2024, um míssil Kinzhal gerou uma cratera próxima à embaixada azerbaijana, com danos limitados. Na época, o Azerbaijão buscava retirar as forças de paz russas de Nagorno-Karabakh, reduzindo o papel do Kremlin na mediação regional.

A escalada continuou em 2025. Nos dias 8 e 18 de agosto, ataques com drones atingiram a base petrolífera da SOCAR em Odessa, ferindo trabalhadores e danificando estruturas. Em 28 de agosto, um ataque aéreo ocorreu a cerca de 50 metros da embaixada em Kiev, afetando o prédio administrativo, o departamento consular, a residência do embaixador e outras dependências. O episódio veio logo após a reação do Azerbaijão às prisões e à violência policial contra azerbaijanos em Ecaterimburgo e à deportação de funcionários do governo, inclusive portadores de passaporte russo.

O Ministério das Relações Exteriores de Baku afirma que Moscou recebeu, em abril de 2022, as coordenadas de todos os prédios diplomáticos do Azerbaijão. O Ministério da Defesa russo teria assegurado que essas informações seriam respeitadas.

O histórico do Kremlin, porém, levanta dúvidas, e reforça suspeitas de que tais ataques dificilmente sejam coincidência. A Rússia já respondeu a confrontos com deportações em massa, embargos, cortes de gás, desinformação, ataques cibernéticos, explosões misteriosas e outros métodos de pressão indireta. A reação à Geórgia em 2006, às tentativas de aproximação da Moldávia com a Europa e às compras tchecas de munição para a Ucrânia são alguns dos exemplos citados.

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