África pode se tornar superpotência de energias renováveis, diz chefe da ONU

António Guterres abre Cúpula Africana do Clima pedindo reformas que apoiem o continente em uma transição verde justa e equitativa

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Com 30% das reservas minerais que são críticas para tecnologias de baixo carbono, como energia solar, veículos elétricos e armazenamento de baterias, a África é “rica em potencial de energia renovável.” Foi com esta reflexão que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, abriu a Cúpula Africana do Clima, na terça-feira (5), em Nairobi, Quênia

Ele citou, dentre outros exemplos, o de Moçambique, “que obtém quase 100% da sua energia de fontes verdes e sustentáveis.”

No entanto, o líder da ONU disse que é necessária uma “correção de rumo no sistema financeiro global, de modo que apoie uma ação climática acelerada no contexto do desenvolvimento sustentável.”

Para Guterres, as energias renováveis podem ser o “milagre africano”, mas é preciso fazer acontecer.

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António Guterres, secretário-geral da ONU (Foto: UN Photo)
Sem orçamento para ação climática

Em conversa com jornalistas após o discurso, Guterres destacou a necessidade por um “mecanismo eficaz de alívio da dívida que apoie suspensões de pagamentos, prazos de empréstimo mais longos e taxas mais baixas.”

Em média, os países africanos pagam quatro vezes mais por empréstimos do que os Estados Unidos e oito vezes mais do que os países europeus mais ricos.

Com isso, muitas nações não têm orçamento para ação climática. Guterres disse que “mais dinheiro está sendo gasto em taxas de juro do que em educação e saúde em vários países africanos.”

Grande injustiça

Em seu discurso, o chefe das Nações Unidas também afirmou que a crise climática é marcada por “uma grande injustiça”. Apesar de ser responsável por apenas 4% das emissões de gases do efeito estufa, o continente africano sofre alguns dos piores efeitos do aumento da temperatura global.

Na conversa com jornalistas, Guterres afirmou que, “dos 20 países mais impactados pelas mudanças climáticas nos desastres que são criados, 17 estão na África.”

Ele disse também que seis em cada dez nações africanas não têm acesso a sistemas de alerta precoce. A meta da ONU é de que todas as pessoas do planeta estejam cobertas até 2027. 

“Ultrapassado, injusto e disfuncional”

Para superar essa desigualdade, o líder da ONU pediu que as 20 maiores economias do mundo, responsáveis por 80% das emissões de gases do efeito estufa, “assumam sua responsabilidade”. A reunião anual do G20 ocorre esta semana em Nova Délhi, na Índia

Guterres disse que os países mais ricos devem também “cumprir sua promessa de fornecer U$ 100 bilhões por ano aos países em desenvolvimento para apoio climático e reabastecer totalmente o Fundo Verde para o Clima.”

Além disso, ele enfatizou que é preciso enfrentar a injustiça de “um sistema financeiro global ultrapassado, injusto e disfuncional.”

O secretário-geral participa ainda da reunião da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) na Indonésia nesta semana, em seguida da reunião do G20 na Índia e do G77 em Cuba. Ele disse que em todas elas “defenderá reformas profundas para tornar estas instituições mais sensíveis às necessidades dos países em desenvolvimento e, em particular, da África.”

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