Al-Shabaab impõe bloqueio na Somália e impede acesso inclusive de ajuda humanitária

Ação dos insurgentes ocorre em meio à expectativa por uma ofensiva das forças armadas somalis no sul do país africano

Militantes do Al-Shabaab, grupo extremista liado à Al-Qaeda, bloquearam nesta terça-feira (18) o acesso de veículos à cidade de Baidoa, capital interina do Estado Sudoeste, na Somália. A situação compromete inclusive a entrega de ajuda humanitária à população local, que já sofre com a escassez de alimentos em função da seca e da insegurança. As informações são da rede Voice of America (VOA).

A ação dos insurgentes ocorre em meio à expectativa por uma ofensiva das forças armadas somalis na região, parte da grande campanha de contraterrorismo do governo com o objetivo de derrotar o Al-Shabaab no país africano.

Devido ao bloqueio, todas as entregas de produtos, alimentos inclusive, está paralisada, situação que já gerou um aumento dos preços em Baidoa. Hussein Mohamud, chefe de gabinete do presidente Hassan Sheikh Mohamud, condenou a iniciativa dos insurgentes e disse que ela evidencia o fato de que o Al-Shabaab está em guerra com a população da Somália.

A situação em Baidoa já era delicada antes do bloqueio, pois a cidade recebe cerca de 600 mil deslocados internos, segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas). São pessoas que já haviam deixado suas casas justamente para escapar da violência.

De acordo com Abdirahman Azari, analista do think tank Centro de Análise e Estudos Estratégicos, o bloqueio é um recado do Al-Shabaab a Mogadíscio, uma forma de mostrar que ainda é forte e mantém o controle em determinadas regiões do país.

Em resposta, diz Azari, a tendência é o governo antecipar a ofensiva nos Estados Sudoeste e Jubaland. Etiópia, Quênia e Djibuti, países parceiros da Somália no combate ao terrorismo, prometeram enviar 20 mil soldados para reforçar a campanha contra o Al-Shabaab.

Soldado acompanha ex-militantes do Al-Shabaab após operação de desmantelamento do grupo terrorista em Garsale, Somália, setembro de 2012 (Foto: Divulgação/Amison)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio, a capital somali, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia e para outros países fronteiriços.

O grupo, que é vinculado à Al-Qaeda, concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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