Governo somali e União Africana relatam grande avanço no combate ao Al-Shabaab

Forças armadas da Somália dizem ter matado cerca de três mil extremistas, com outros 3,7 mil feridos gravemente nos últimos meses

A ação do governo da Somália levou a uma considerável redução no país das atividades do Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda. A análise é da União Africana (UA), que classificou a situação de segurança no território somali como relativamente calma. As informações são do site local Garowe.

Desde que Mogadíscio iniciou a atual operação de contraterrorismo, no ano passado, as forças armadas dizem ter matado cerca de três mil extremistas, com outros 3,7 mil feridos gravemente.

Para tanto, a Somália conta com o suporte do governo dos EUA, que enviou em março 61 toneladas de equipamento militar para ser usado pelas forças armadas somalis. Washington também reativou a missão que havia sido encerrada durante o governo de Donald Trump, com cerca de 500 militares por lá atualmente.

Hassan Sheikh Mohamud, presidente da Somália: cruzada contra o Al-Shabaab (Foto: Flickr)

“No entanto, não podemos baixar a guarda, já que o Khawarij (Al-Shabaab) continua sendo a maior ameaça à paz e estabilidade da Somália”, disse Mohammed El-Amine Souef, chefe da diplomacia da UA. “Pedimos a todos os somalis amantes da paz que continuem trabalhando em estreita colaboração com as forças de segurança para ajudar o país a alcançar a paz e a segurança a longo prazo”.

Diante desse cenário, o primeiro-ministro somali Hamza Abdi Barre previu na segunda-feira (3) que em breve o país estará livre da ameaça que o grupo terrorista representa. Ele destacou a eficiente cooperação entre o exército nacional e a UA e agradeceu também às forças armadas da Dinamarca, parcerias em uma operação para libertar cerca de 70 cidades e aldeias antes dominadas pelos insurgentes.

“Esperamos ver uma nova Somália em um futuro próximo. Uma Somália livre do Al-Shabaab e da instabilidade política. Estamos orgulhosos de nossos parceiros que apoiaram nossos objetivos para alcançá-los”, disse Barre, o principal aliado do presidente Hassan Sheikh Mohamud no governo.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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