EUA oferecem recompensa de US$ 5 milhões por fabricante de bombas do Al-Shabaab

Abdullahi Osman Mohamed é o especialista sênior em explosivos do grupo extremista somali ligado à Al-Qaeda

O Departamento de Estado norte-americano, através de seu programa Rewards for Justice (Recompensas por Justiça, em tradução literal), está oferecendo US$ 5 milhões por informações que levem à captura de Abdullahi Osman Mohamed, terrorista do Al-Shabaab, da Somália.

Também conhecido como Engenheiro Ismail, ele é o especialista sênior em explosivos do grupo ligado à Al-Qaeda. “Ele é responsável pelo gerenciamento geral das operações e fabricação de explosivos do Al-Shabaab. Mohamed também é um conselheiro especial do chamado ‘emir’ do Al-Shabaab e é o líder da ala de mídia do Al-Shabaab, a al-Kataib”, diz Washington.

Mohamed figura desde 2017 na lista de terroristas globais especialmente designados do governo dos EUA. A oferta de recompensa, divulgada na quarta-feira (14) pelo Twitter, surge após mais um ataque mortífero realizado pelo grupo na Somália.

A ação dos extremistas, que ocorreu entre sexta-feira (9) e sábado (10) da semana passada, teve como alvo o Hotel Pearl, em Mogadíscio, capital somali. Seis civis e três membros das forças de segurança somalis morreram na ação, sendo que uma das vítimas foi identificada como sendo Nasra Hassan, funcionária da OMS (Organização Mundial de Saúde) no país africano.

Ao final do cerco ao hotel, 84 pessoas que estavam no estabelecimento foram libertadas. As forças de segurança conseguiram neutralizar os cinco terroristas que realizaram a ação, segundo informou o site local Garowe.

Aquele não foi o primeiro ataque a um hotel realizado pelo Al-Shabaab. Em julho de 2022, um carro-bomba explodiu do lado de fora de um hotel na cidade de Jowhar, cerca de 50 quilômetros a norte de Mogadíscio. No mês seguinte, o alvo foi o Hotel Hayat, na capital. Em outubro ocorreu um ataque contra um hotel na cidade de Kismayo, no sul do país.

Recompensa oferecida por Abdullahi Osman Mohamed, terrorista do Al-Shabaab (Foto: reprodução)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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