Ex-executivos de petrolífera sueca vão a julgamento por crimes de guerra no Sudão

Eles são acusados de pedir garantias de segurança em um campo petrolífero, cientes de que isso seria feito por meio da força

O ex-CEO da empresa petrolífera sueca Lundin Oil, agora chamada Orron Energy, enfrentou nesta terça-feira (5) um julgamento em Estocolmo, juntamente com o ex-vice-presidente da companhia. Ambos são acusados de cumplicidade em crimes de guerra ocorridos no Sudão durante o regime de Omar al-Bashir. As informações são da rede Deutsche Welle.

Os executivos no banco dos réus são Ian Lundin, sueco, e Alex Schneiter, cidadão suíço, que negam qualquer irregularidade, podendo ser condenados à prisão perpétua se considerados culpados. As acusações afirmam que eles solicitaram ao governo sudanês que assumisse a segurança em um campo de exploração da Lundin Oil onde hoje é o atual território do Sudão do Sul, o que resultou em bombardeios aéreos, morte de civis e incêndios em vilarejos, de acordo com a acusação.

Um local de proteção de civis da ONU em Wau, no Sudão do Sul (Foto: WikiCommons)

O julgamento, resultado de uma investigação de 13 anos que envolveu mais de 80 mil páginas de evidências, está previsto para durar cerca de dois anos e meio, com conclusão programada para o início de 2026.

Entre as 61 testemunhas de diversas partes do mundo, estão especialistas, funcionários da petrolífera, ex-membros da ONU (Organização das Nações Unidas) e o ex-primeiro-ministro sueco Carl Bildt, que fez parte do conselho da Lundin Oil de 2001 até assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores em 2006.

Os supostos crimes ocorreram entre 1999 e 2003. Alega-se que os dois ex-executivos foram cúmplices porque sabiam que o governo sudanês tomaria controle da área por meio da “força militar”.

Conforme a acusação, os dois executivos estabeleceram “as condições essenciais para as operações de sua subsidiária” no Sudão, sem considerar que essas condições resultariam em um conflito no qual as forças militares sudanesas e milícias aliadas ao regime atacariam sistematicamente civis ou conduziriam ataques sistemáticos, em violação do Direito Internacional Humanitário.

Em 2021, os promotores também iniciaram um processo para apreender 1,4 bilhão de coroas (R$ 626 milhões, em valores atuais) da empresa, valor que corresponde aos lucros obtidos com a venda do empreendimento no Sudão em 2003.

Antes de enfrentar o júri, Lundin afirmou nesta terça que as acusações contra ele e Schneiter são falsas, conforme relatado pela agência de notícias sueca TT. O ex-presidente declarou aos repórteres no tribunal distrital de Estocolmo que eles estavam “ansiosos” para se defender.

O Sudão esteve envolvido em conflitos armados por várias décadas, especialmente no Sudão do Sul, que conquistou sua independência em 2011. Também houve conflitos em outras regiões do país. O ex-presidente Omar al-Bashir, que governou de 1989 a 2019, enfrenta acusações de genocídio e outros crimes de guerra perante o Tribunal Penal Internacional em Haia, acusações que ele nega.

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