Este artigo foi originalmente publicado pela Unicef
Adama Traoré vive na vila de Sadiola, na região de Kayes, no oeste do Mali. Ele trabalha como vacinado no centro comunitário de saúde de Sadiola há mais de dez anos.
“Quando eu era jovem, nós tínhamos vizinhos pobres. Um dia, um dos filhos deles começou a ter manchas vermelhas na pele, olhos vermelhos e febre alta. Ele tinha sarampo e seus pais não tinham dinheiro para levá-lo a um hospital e comprar remédios”, conta.
“Depois de uma semana sofrendo, um homem que viva em nosso bairro decidiu levá-lo ao hospital. Ele teve sorte de se recuperar totalmente, mas seu irmão mais velho, que esteve na mesma situação dois anos antes, infelizmente morreu. Essa foi a minha motivação para virar vacinador.”
Adama decidiu virar vacinador para melhorar a saúde das crianças em sua comunidade. “Nós estamos em uma área de mineração de ouro e muitas famílias vivem aqui, com suas crianças totalmente isoladas e desprovidas de qualquer cuidado.”
No dia registrado pela Unicef, Adama estava indo conhecer as crianças que vivem nas minas de ouro de Massakama.
Às 7h30, ele deixa sua casa para fazer sua primeira parada no centro comunitário de saúde de Sadiola. Lá, ele pega a motocicleta e parte para a sua segunda parada: buscar vacinas no centro comunitário de Kobokotossou, o mais próximo do seu destino final, Massakama.
Adama precisa percorrer 50 km até a sua última parada, além dos 50 km já percorridos até Kobokotossou. Em sua motocicleta, ele carrega as vacinas, os registros e uma caixa de luvas.
“Antes de partir, eu me certifico de que tudo está bem preso e verifico mais uma vez se embalei as vacinas básicas — coqueluche, tuberculose infantil, tétano, pólio, sarampo e difteria, hepatite, diarréia, pneumonia, febre amarela e meningite — que talvez eu precise, porque cada vacina pode salvar a vida de uma criança”, explica.
Às 8h30, o termômetro já está próximo dos 40ºC. Adama começa sua corrida contra o relógio para chegar as minas de ouro em Massakama, vacinar o máximo de crianças que conseguir e chegar em casa antes do sol se por.
O caminho que ele percorre é difícil, isolado e desprovido de qualquer infraestrutura, tornando a viagem perigosa. Após duas horas de viagem, Adama chega ao seu destino final.
As minas de ouro de Massakama estão próximas a fronteira com o Senegal. Mas de 2 mil pessoas, incluindo famílias com crianças, vivem neste local. Não há escolas nem centro de saúdes próximos. Sem escolha, muitas crianças trabalham na região, privadas do direito à educação, proteção, sobrevivência e desenvolvimento.
Mariam*, 14 anos, trabalha nas minas de ouro há cinco anos e nunca foi a escola. “Eu quero ir embora, porque estou cansada. Meu sonho é ir para a escola como meus amigos”, conta.
Assim que Adama para a motocicleta, mães e crianças correm até ele. “Eu comecei a trabalhar aqui e meu filho nunca foi vacinado”, diz a mãe de uma criança de seis anos. “Eu ouvi dizer que houve três casos de sarampo entre três adolescentes de Senegal e que, se eu não vacinar meu filho, ele pode pegar a doença e morrer.”
Adama registra as informações de cada criança vacinada. Quando as vacinas acabam, ele anota quais crianças vão precisar ser atendidas em sua próxima visita.
Às 14h, ele avisa aos pais que irá voltar na próxima semana. Adama coloca seu equipamento em sua motocicleta e volta para Sadiola antes do anoitecer.
“Ele está fazendo um ótimo trabalho”, diz o líder de Massakama. “Aqui, os pais passam o dia procurando ouro e só terminam o trabalho muito tarde. Sem a vacinação itinerante, a maioria deles não conseguiria vacinar suas crianças.”
* Nome e idade foram alterados