Um ataque devastador ao único hospital em funcionamento na cidade sitiada de El Fasher, no Sudão, deixou cerca de 70 mortos e 19 feridos, de acordo com o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus. A investida, ocorrida no Hospital Universitário Maternal Saudita, reflete a escalada da guerra civil no país africano. As informações são da Associated Press.
O ataque, atribuído pelas autoridades locais às Forças de Apoio Rápido (RSF), ocorreu em meio a perdas crescentes sofridas pelo grupo rebelde nas frentes de batalha contra o exército sudanês e seus aliados, liderados pelo general Abdel-Fattah Burhan. Recentemente, Burhan apareceu em imagens próximo a uma refinaria de petróleo ao norte de Cartum, que suas tropas afirmam ter retomado do controle da RSF.
O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita condenou o ataque ao hospital, chamando-o de “uma violação do direito internacional”. Apesar de sanções internacionais e acusações de genocídio contra a RSF, os combates continuam sem sinais de trégua.

Tedros destacou a gravidade do ataque em uma postagem no X, antigo Twitter, afirmando que o hospital estava lotado de pacientes no momento do bombardeio. Além disso, um outro centro médico em Al Malha também foi atacado no mesmo período.
“Continuamos a pedir o fim de todos os ataques à assistência médica no Sudão e acesso total para a restauração das instalações danificadas”, declarou Tedros, reforçando que “o melhor remédio para o povo sudanês é a paz”.
Clementine Nkweta-Salami, coordenadora humanitária da ONU (Organização das Nações Unidas) no Sudão, alertou anteriormente sobre o ultimato de 48 horas emitido pela RSF para que as forças aliadas ao exército deixassem El Fasher, sinalizando uma ofensiva iminente. Desde maio de 2024, a cidade está cercada pela RSF, submetendo os civis a meses de sofrimento e violações de direitos humanos.
El Fasher: uma cidade sob cerco
Localizada a mais de 800 quilômetros de Cartum, El Fasher agora abriga mais de 1 milhão de pessoas, muitas deslocadas pela guerra. Segundo a ONU, até dezembro, o cerco imposto pela RSF resultou em 782 mortes e mais de 1.140 feridos – números que provavelmente são ainda maiores.
O hospital saudita, localizado próximo as linhas de frente, tem sido alvo frequente de bombardeios. Mesmo sob essas condições extremas, os profissionais de saúde continuam a realizar cirurgias, muitas vezes à luz de celulares.
Guerra civil
O Sudão enfrenta instabilidade desde a queda do ditador Omar al-Bashir, em 2019. A transição para a democracia foi interrompida em 2021, quando Burhan e Mohammed Hamdan Dagalo, líder da RSF, realizaram um golpe militar. Desde então, os dois lados têm travado uma guerra brutal que começou em abril de 2023, deixando mais de 28 mil mortos, milhões de desabrigados e agravando a fome no país.
Na última semana, Burhan visitou o quartel-general do exército em Cartum pela primeira vez desde o início do conflito, reafirmando sua intenção de eliminar a “rebelião”. “As forças armadas estão em suas melhores condições e seguiremos em frente com a determinação do nosso povo”, disse ele à agência estatal SUNA.
Por que isso importa?
O Sudão vive um violento conflito civil que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das RSF.
As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tem entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan lidera um efetivo de cerca de 200 mil.
No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.
O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.
Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.
Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões, cerca de dez milhões de pessoas foram deslocadas dentro do país, com mais de dois milhões forçadas a cruzar as fronteiras para o exterior. A crise maciça deixou 25 milhões de pessoas necessitando de ajuda humanitária e proteção.
A terrível situação é agravada por uma grave escassez de suprimentos essenciais, já que as entregas de produtos comerciais e de ajuda humanitária foram fortemente restringidas pelos combates e pelos desafios de acesso ao território controlado pelas RSF.