Um ataque aéreo coordenado pelas forças armadas da Etiópia matou dezenas de pessoas em um mercado da região de Tigré, no norte do país, na terça-feira (22).
Um médico local afirmou inicialmente à agência Reuters que ao menos 40 pessoas teriam morrido no ataque, inclusive crianças. Mais tarde nesta quinta (24), a Associated Press informou que o número de mortes teria chegado a 64*.
Segundo um porta-voz das forças armadas etíopes, o objetivo do ataque era atingir “terroristas”, não civis. “Nunca coordenamos um ataque aéreo na área de mercados. Como isso é possível?”, afirmou um porta-voz das forças armadas à BBC. “O exército é capaz de atingir precisamente seus alvos. Conduzimos ataques aéreos, mas somente em determinados alvos”.
O alvo, de acordo com os militares, era em um grupo de rebeldes reunidos para celebrar os 33 anos de um ataque ocorrido em 1988 em Hawzen, outra cidade da região. Aquela ação foi comandada pelos líderes comunistas que então dirigiam o país e até hoje é bastante lembrada e celebrada na província de Tigré.
Conflito armado
A província está em ebulição desde novembro, quando forças etíopes assumiram o controle da região. Na ocasião, o primeiro-ministro Abiy Ahmed ordenou a invasão de Tigré sob alegação de “desobediência civill”, após autoridades locais realizarem eleições contrariando o adiamento imposto pelo governo federal.
O partido oposicionista TPLF (Frente de Libertação do Povo de Tigré) comanda a província há mais de 30 anos, e a região sofre com um a severa escassez de alimentos que já atinge ao menos 4 milhões de pessoas.
Agências humanitárias só puderam entrar em Tigré depois de março, quando pelo menos dois milhões de civis já haviam se deslocado para outras províncias ou países vizinhos. Ainda assim, várias áreas permanecem inacessíveis.
A presença de soldados da Eritreia aumenta a ebulição no território etíope. Os eritreus permanecem no local mesmo após o primeiro-ministro Abiy Ahmed garantir a retirada deles, em abril.
Há denúncias de violência sexual e assassinatos em massa pelas forças estrangeiras. Nas eleições que a Etiópia realizou na segunda-feira (21), entretanto, Ahmed rejeitou as alegações de crimes de guerra. Tigré foi excluída do pleito por “alta insegurança”.
*a notícia foi atualizada às 16h12