Ataque do Estado Islâmico mata soldados em base militar no oeste do Níger

Ofensiva na região de fronteira com Mali e Burkina Faso foi reivindicada por jihadistas e ocorre em área estratégica para o grupo

Um ataque a uma base militar no oeste do Níger resultou na morte de vários soldados no último domingo (26), informação revelada somente agora por uma fonte local. A ofensiva foi reivindicada pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que afirmou ter matado cerca de 40 militares, número ainda não confirmado de forma independente. As informações são do site The Defense Post.

O atentado teve como alvo o posto de Eknewan, localizado na conturbada região de fronteira entre Níger, Mali e Burkina Faso, considerada um reduto de grupos ligados tanto ao EI quanto à Al-Qaeda. “Um ataque ocorreu há dois dias contra a posição militar de Eknewan”, afirmou a fonte, que pediu anonimato. “Houve mortes entre as forças de defesa e segurança”, completou, sem detalhar quantas.

O governo militar do Níger, instaurado após o golpe de julho de 2023, tem fornecido poucas informações sobre ações jihadistas, especialmente nas zonas mais instáveis como a do triângulo fronteiriço. A ausência de dados oficiais tem dificultado a verificação de números e a apuração de danos em tempo real.

Apesar do silêncio do governo, o jornal estatal Le Sahel informou que o general Abdourahamane Tiani, líder da junta militar no poder, nomeou na segunda-feira (27) um novo governador para a região de Tahoua, onde ocorreu o ataque. A medida foi vista como tentativa de resposta administrativa à crise de segurança.

Rebeldes extremistas na região de Tillaberi, no Níger (Foto: Wikimedia Commons)

A região tem sido palco de manobras militares recentes envolvendo os exércitos dos chamados Estados da Aliança do Sahel — Níger, Mali e Burkina Faso — além de forças do Chade e do Togo. O bloco militar, formado após a ruptura com potências ocidentais, reforça a aproximação entre os governos militares da região.

Desde o golpe, o Níger expulsou tropas francesas e norte-americanas de seu território, alegando interferência estrangeira. Em março do ano passado, os Estados Unidos transferiram para o controle do governo nigerino uma base de drones localizada no norte do país, que vinha sendo usada no combate ao jihadismo.

Por que isso importa?

O EI passou por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo. O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

Ultimamente, porém, os EUA relatam um ressurgimento do grupo extremista que se concentra na Síria, onde novos seguidores são treinados para atuar como homens-bomba. Diante de tal cenário, dobraram em 2024 os ataques contra as forças aliadas de combate ao terrorismo, que ocorrem também no Iraque.

Mas o continente onde a facção mantém presença mais relevante é a África, através de afiliados locais. Um deles é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali, em Burkina Faso e no Níger. Ainda tenta alcançar a Nigéria para fins logísticos e de recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas).

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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