Ataques terroristas em sucessão deixam quase 40 pessoas mortas na Somália

Ação mais mortífera aconteceu na praia de Lido, em Mogadíscio, e deixou 32 mortos após um terrorista suicida detonar um colete explosivo

Dois ataques terroristas foram registrados nos últimos dias na Somália, com quase 40 vítimas fatais. A ação mais mortífera aconteceu em uma praia de Mogadíscio, a capital do país, na noite de sexta-feira (2), deixando 32 mortos, segundo informações das autoridades reproduzidas pela rede BBC.

O ataque que matou 32 pessoas aconteceu na praia de Lido e foi reivindicado pelo Al-Shabaab, principal grupo extremista ativo no país africano. De acordo com Abdifatah Adan Hassan, porta-voz da polícia local, 63 pessoas ficaram feridas.

A mesma fonte afirmou que o ataque foi realizado por pelo menos cinco pessoas, sendo uma delas um terrorista suicida que detonou um colete explosivo quando se aproximou de um hotel à beira-mar. Um dos autores do atentado foi capturado com vida.

Praia de Lido, em Mogadíscio, na Somália, julho de 2014 (Foto: AMISOM/WikiCommons)

A facção terrorista, que é ligada à Al-Qaeda, assumiu a autoria pouco depois do ataque e disse que o número de vítimas é bem maior que o citado pelas autoridades somalis. O Al-Shabaab afirmou, ainda, que entre os mortos há “políticos, forças [de segurança] e funcionários de vários ministérios e escritórios.”

De acordo com a agência Associated Press (AP), a polícia confirmou que um de seus homens está entre os mortos, sendo os demais civis. Bastante popular entre a população somali, a praia de Lido costumam ficar lotada nos finais de semana e é alvo habitual de ataques do Al-Shabaab. O mais recente, em junho de 2023, havia deixado nove mortos.

No dia seguinte, um novo ataque foi registrado no país africano. A mídia estatal anunciou sete mortes após um veículo se chocar com um explosivo plantado em uma rodovia a cerca de 40 quilômetros da capital. Não há informações sobre a autoria desta ação.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram em 2022 na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas tropas do governo, por milícias armadas aliadas às Forças Armadas e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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