Com dívida de US$ 21 bilhões, Angola se prepara para ampliar parceria com a China

País africano vinha se voltando cada vez mais aos EUA, mas novamente enxerga Beijing como melhor parceiro para seus projetos

O presidente de Angola, João Lourenço, disse nesta semana que está disposto a ampliar a parceria com a China, em busca de novos investimentos sobretudo no setor agrícola. Em visita a Beijing, o líder angolano disse que busca reduzir a dependência que a economia do país tem do petróleo e vê os asiáticos como bons parceiros.

O país africano aderiu em 2014 à Nova Rota da Seda, que financia projetos de infraestrutura no exterior e, assim, espalha a influência chinesa por todo o mundo. Desde sua adesão, Angola recebeu investimentos de US$ 12 bilhões de Beijing, embora a dívida total com credores chineses já esteja na casa dos US$ 21 bilhões.

Com as contas apertadas, Angola vinha se distanciando da China e se aproximando dos EUA, o que de certa forma explica o convite do presidente chinês Xi Jinping a Lourenço. A estratégia de sedução parece ter funcionado, considerando o otimismo manifestado pelos dois lados de que a parceria seja ampliada.

“O lado chinês está disposto a trabalhar com Angola para implementar projetos de infraestrutura-chave e apoiar empresas chinesas fortes a irem a Angola para levar a cabo várias formas de cooperação”, disse o presidente Xi Jinping durante encontro com Lourenço.

João Lourenço, presidente de Angola (Foto: Olaf Kosinsky/WikiCommons)

O anúncio surge em um momento economicamente ruim para a nação africana. Além da enorme dívida, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou uma avaliação no dia 8 de março segundo a qual Angola corre o risco de não atingir a meta de crescimento anual de 0,5%. O problema é justamente a “forte dependência” do petróleo, setor que deve ter um encolhimento de 6,1% em relação ao ano anterior.

Na visão de Luanda, o dinheiro chinês surge como uma salvação. Luís Cupenala, presidente da Câmara de Comércio Angola-China, participou do encontro entre Xi e Lourenço e não poupou elogios ao parceiro, embora a própria economia chinesa viva um momento de retração que preocupa Beijing.

Ainda assim, Cupenala diz que Angola pode se inspirar no parceiro. “É um milagre que a China tenha passado da privação para a segunda maior economia do mundo. Estamos impressionados e inspirados”, disse ele em entrevista à agência estatal chinesa Xinhua.

Parceria com os EUA

O fortalecimento da aliança com a China contraria uma tendência recente. Segundo o The Wall Street Journal, a nação africana desde 2022 tem voltado seus olhos aos EUA como parceiro comercial, a ponto de abrir mão do apoio da China para operação de uma linha ferroviária comercial que Beijing construiu em 2012, antes da Nova Rota da Seda.

Em janeiro deste ano, Tulinabo Mushingi, embaixador dos EUA em Luanda, disse que Washington quer ganhar cada vez mais espaço em Angola. “O que peço aos angolanos é que me deem a oportunidade de apresentar o modelo dos EUA, que me deem a oportunidade de estar à mesa e de competir”, disse. “Sei que o nosso modelo será atrativo para os angolanos, no final das contas. Sei que eles vão nos escolher.”

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