Mineradoras chinesas ameaçam futuro de comunidade rural na Nigéria

Povoado de Farebami vem tendo prejuízo com as atividades irregulares de extração de pedras preciosas por estrangeiros

A comunidade rural de Farebami, no Estado de Osun, na Nigéria, tem sido invadida por mineiros estrangeiros, em sua maioria da China, interessados na exploração de pedras preciosas da região. E a chegada desses exploradores, que lançam mão de atividade desordenada, tem causado destruição, ameaçando casas e fazendas e comprometendo as fontes de subsistência dos habitantes locais. É o que mostra reportagem do portal nigeriano The Cable.

O povoado, outrora habitado por fazendeiros e artesãos, hoje está tomado por mineradoras chinesas e suas equipes de trabalho. Sem apoio do governo para conduzir a situação e coibir a ação tida como devastadora, a comunidade está nas mãos dos estrangeiros, que extraem diariamente suas riquezas minerais.

As principais contestações dos habitantes têm relação com exploração e grilagem de terras, mas também há temores de enchentes e doenças. Foram identificadas, ainda, perigosas escavações em terrenos próximos a construções. Um morador relatou que uma perfuração ocorreu tão próxima à sua residência que ele temia que o prédio pudesse desabar.

Comunidade de Farebami tem sofrido com as atividades irregulares de exploração chinesa de pedras preciosas (Foto: TrackaNG/Reprodução Twitter)

Queixas foram levadas ao líderes comunitários, que procuraram os mineiros chineses para expôr o desconforto da população, que também sofre com a poluição sonora do maquinário. Os encontros foram definidos como “inúteis”.

Um pedreiro que reside no local, identificado como Ade, relatou que teve sua casa destruída e agora espera ser ressarcido do prejuízo pelos exploradores. “Eles prometeram fazer algo antes do final daquele mês. Antes de o mês terminar, eles empacotaram seus equipamentos e desapareceram”, lamenta.

Seun, também morador da comunidade, disse à reportagem que teme que a água extraída das atividades de mineração possa invadir sua casa em breve. Ele conta que os mineradores chineses são inacessíveis e costumam andar com seguranças armados que impedem que alguém se aproxime.

A agricultura local também foi impactada, já que a água usada para irrigar as plantações está poluída. Um fazendeiro identificado como Owolabi questionou a omissão do governo nigeriano.

“Mesmo que reportemos ao governo, eles vão adiar as reuniões. Não há nada que possamos fazer. Vou ter que esperar até a estação seca antes de poder plantar qualquer coisa novamente. Qual é o futuro dos filhos dos agricultores?”, disse ele, acrescentando que muitos dos fazendeiros que possuem fazendas de cacau herdaram as terras de seus pais. “Então, se eles perderem tudo agora, o que o futuro reserva para seus filhos?”.

Combate à mineração ilegal

Com base na Lei de Minerais e Mineração da Nigéria de 2007, Gboyega Oyetola, governador do Estado de Osun, inaugurou em abril deste ano o Comitê de Gestão Ambiental e de Recursos Minerais de Osun (MIREMCO) para combater a mineração ilegal.

“O comitê irá discutir e aconselhar o ministro de Minerais Sólidos em questões que afetam a invasão, segurança, agitação social, poluição e degradação ambiental de qualquer terra na qual qualquer mineral está sendo extraído dentro do Estado”, garantiu.

Em 2020, um relatório intitulado ‘Busca por ouro: como impostos não pagos de US$ 500 milhões podem transformar comunidades negligenciadas’ destacou como a Nigéria perde centenas de milhões de dólares em impostos para a mineração ilegal e como esse dinheiro poderia ser usado para o desenvolvimento das comunidades.

Na comunidade Farebami, não existem estradas asfaltadas, atendimento de saúde pública ou educandários. Além disso, o local sofre com exploração indiscriminada de cartéis da China, Coreia do Sul e Líbano em reservas florestais, com exportação de madeira ilegal.

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