Em Burkina Faso, conflito leva população a escolher entre a fome e a violência

Em meio à violência, as condições no país têm piorado a ponto de as agências humanitárias não conseguirem atender a todos que buscam ajuda

A crise humanitária em Burkina Faso está fora de controle. A constatação é da ONG Norwegian Refugee Council (Conselho Norueguês de Refugiados, da sigla em inglês NRC), que na segunda-feira (13) divulgou um relatório sobre a situação no país da África Ocidental. Segundo a entidade, cerca de 275 mil pessoas tiveram que deixar suas casas desde abril, uma média semanal de 13 mil deslocamentos.

As condições têm piorado a ponto de as agências humanitárias não conseguirem atender a todos que buscam ajuda. “Em meio ao conflito crescente, a operação humanitária para ajudar as pessoas necessitadas está ficando para trás. Uma escassez crítica de fundos de ajuda, combinada com a falta de capacidade das autoridades locais, está impedindo agências de socorro como a nossa de responder a tempo”, disse Manenji Mangundu, diretor da NRC no país africano.

Conflito em Burkina Faso leva população local a escolher entre a fome e a violência
Crianças assistidas pelo Programa Mundial de Alimentos no distrito de Yako, Burkina Faso, em dezembro de 2019 (Foto: Unicef/Vincent Tremeau)

A situação apresenta a muitas famílias um cruel dilema: escolher entre a fome e a violência, em meio a um conflito que matou quase 500 civis somente entre maio e agosto deste ano. “Aqui em Ouahigouya (cidade no norte do país) não há assistência. Em casa, em Kombri (distrito vizinho), temos o suficiente para nos alimentarmos, mas arriscamos nossas vidas”, diz Mohammed, um agricultor desabrigado com sua família.

Para outras famílias, a decisão é ainda mais difícil. Sem comida em suas casas, precisam caminhar longas distâncias em busca de uma ajuda que talvez não venham a encontrar.

“A fome faz você gritar por ajuda, mas ninguém está vindo. As pessoas sentem que não fazem mais parte de Burkina Faso. Sentimos que não merecemos ajuda”, afirma Bandé, uma mãe que deixou a cidade de Mansila em busca de ajuda. “Se a escolha é morrer no caminho ou morrer de fome em Mansila, melhor pelo menos morrer tentando sair”.

O principal fornecedor de alimento do país entre os grupos humanitário é o PMA (Programa Mundial de Alimentos), da ONU (Organização das Nações Unidas).

Por que isso importa?

Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico (EI), insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e desencadeou uma crise humanitária. Grupos armados lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de milhares de tropas francesas e de forças internacionais.

pior ataque jihadista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadir a vila de Solhan, ao norte do país. Na ocasião, 160 pessoas morreram.

Desde que o conflito teve início, os ataques de ambas organizações extremistas já forçaram mais de 1,4 milhão de pessoas a fugirem de suas casas. Estima-se que 4,8 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar, e 2,9 milhões estão em situação de insegurança alimentar aguda.

Os grupos humanitários no país calculam que US$ 607 milhões são necessários para controlar a situação até o final de 2021. Apenas 24% desse valor já foi arrecadado.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

Tags: