Confrontos no Sudão já mataram mais de 600 pessoas e deslocaram 700 mil

Negociações de paz mediadas pelos governos da Arábia Saudita e dos Estados Unidos ainda não deram resultado

O número de vítimas, inclusive civis, dos confrontos iniciados no dia 15 de abril no Sudão não param de aumentar. Na terça-feira (9), a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um balanço atualizado de 604 pessoas mortas e 5,1 mil feridas. Na comparação com o relatório anterior, são mais de cem pessoas mortas em uma semana.

O número real de baixas, entretanto, tende a ser maior que o divulgado, vez que alguns dos Estados sudaneses onde foram registrados confrontos deixaram de enviar dados.

Anteriormente, a ONU (Organização das Nações Unidas) havia dito também que muitos corpos não podem ser recuperados porque estão em áreas de intensa troca de tiros, e o balanço leva em conta somente as vítimas efetivamente identificadas.

As Nações Unidas relataram, ainda, que “pelo menos 15 ataques a profissionais de saúde foram confirmados, e outros estão sendo verificados”. Segundo a entidade, as instalações de saúde “estão sendo alvos de ações armadas, invasões e saques que prejudicam o atendimento e os cuidados”. 

Refugiados do Sudão esperam por itens não alimentares essenciais no Chade (Foto: Donaig Le Du/Unicef)

Ainda de acordo com a ONU, cerca de 700 mil pessoas foram deslocadas internamente devido à mais recente explosão da violência no país africano.

Muitos dos sudaneses forçados a deixar suas casas optaram por sair do país. Os destinos preferenciais são Chade e Egito, com relatos de pessoas em busca de abrigo também na República Centro-Africana, na Líbia, na Etiópia e no Sudão do Sul, muitas vezes em comunidades já vulneráveis.

Diante dessa situação, a ONU afirmou na semana passada que serão necessários US$ 445 milhões para apoiar os deslocados até outubro deste ano. Como se a crise já não fosse grande o bastante, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) tem reportado casos de roubo em armazéns humanitários. 

O conflito entre duas facções militares rivais no Sudão segue sem perspectiva de interrupção mesmo com as negociações de paz conduzidas por Arábia Saudita e Estados Unidos. Por ora, não há possibilidade de as duas partes chegarem a um acordo capaz de dar fim à violência.

Por que isso importa?

O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das forças armadas, e Mohamed Hamdan Daglo, apelidado de “Hemedti”, à frente das Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês), corpo paramilitar da violenta milícia Janjawid, que combateu os rebeldes de Darfur.

As tensões iniciadas em 15 de abril decorrem de divergências sobre como cem mil soldados da milícia paramilitar devem ser integrados ao exército e quem deve supervisionar esse processo. 

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões do país, as nações estrangeiras que tinham cidadãos e representantes diplomáticos no Sudão realizaram um processo de evacuação, viabilizado por um frágil cessar-fogo que não foi totalmente respeitado pela partes.

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