O conflito no Sudão foi o tema de uma reunião no Conselho de Segurança da qual participou o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, que exigiu o fim imediato da violência.
Pelo menos 427 pessoas foram mortas desde 15 de abril, quando tropas do exército do Sudão e paramilitares da Força de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês) começaram a se enfrentar nas ruas da capital Cartum e em outras partes da nação africana.
Na terça-feira (25), o líder das Nações Unidas disse que as notícias que chegam de Cartum traçam um quadro arrasador. Ele contou que as pessoas estão presas sem poder sair de casa, aterrorizadas e com pouca comida, remédios e combustíveis. As instalações de saúde estão perto de desabar, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que vários hospitais estão sendo usados por grupos armados.
Guterres lembra que, nos últimos dez dias, além das centenas de mortes, mais de 3,7 mil pessoas ficaram feridas nos combates e dezenas de milhares de sudaneses começaram a fugir para os países vizinhos.
A maioria dos que deixam tudo para trás é dos Estados do Nilo Azul e de Kordofan do Norte, além de regiões na província de Darfur. As Nações Unidas informaram que muitos refugiados estão chegando ao Chade, ao Egito e ao Sudão do Sul.
Conflito com potencial para atingir região do Sahel
Guterres pediu o fim imediato dos combates e disse que não se pode imaginar uma guerra prolongada. O secretário-geral contou ao Conselho de Segurança que todos os sete países que fazem fronteira com o Sudão já vivenciaram conflitos ou tiveram suas próprias revoltas populares na última década.
O Sudão é ainda uma porta de entrada para a região do Sahel, que experimenta insegurança e instabilidade política além de atravessar uma catástrofe humanitária que só pioraria com o novo conflito.
Violência sexual e saques
O enviado especial da ONU ao Sudão, Volker Perthes, contou por videoconferência que o cessar-fogo de 72 horas está sendo mantido, apesar de alguns incidentes de tiroteio. Ambos os lados estão culpando um ao outro pela quebra do acordo.
Ele disse que algumas casas de sudaneses, de trabalhadores da ONU e diplomatas foram atacadas e saqueadas. Há relatos de casos de violência sexual contra mulheres. Perthes acrescentou que ambos os lados devem parar os combates imediatamente.
A instabilidade política no Sudão se agravou em 2019, quando o então presidente Omar al-Bashir foi derrubado do posto. Logo depois, foi formado um governo civil e militar que foi deposto por um golpe em 2021.
Avanços para o desenvolvimento comprometidos
Para o líder da ONU, António Guterres, este novo conflito, que eclodiu em 15 de abril, não está somente colocando o futuro do Sudão em risco, mas também pode cruzar as fronteiras e atrasar décadas de avanços no desenvolvimento regional.
O secretário-geral disse aos países do Conselho de Segurança que é preciso fazer mais para acabar com o conflito e restabelecer a paz.
Ele pediu aos lados comandados pelos generais Abdel Fattah al-Burhan e Mohamed Hamdan Daglo “Hemedti” que parem de atirar. Ele disse que é obrigação dos líderes sudaneses colocar os interesses do povo à frente de tudo.
Segundo Guterres, esse conflito não pode e não deve ser resolvido no campo de batalha à custa dos corpos de crianças, mulheres e homens do Sudão.
Povo quer paz e democracia
O chefe da ONU lembrou que os sudaneses deixaram claro que o povo quer paz e a transição para a democracia na nação africana. E pediu aos lados em choque que respeitem o cessar-fogo de 72 horas que foi negociado pelos Estados Unidos, interrompendo combates e a violência.
O secretário-geral disse que todos os países e entidades regionais com influência sobre o Sudão devem ajudar.
Neste fim de semana, a ONU reconfigurou sua presença no país, realocando vários funcionários para outras nações.
Volker Perthes, porém, permanece em Cartum. A ONU decidiu criar um centro no Porto Sudão para continuar o trabalho na nação, onde 33% da população precisa de ajuda para sobreviver.
Desde que a violência eclodiu em 15 de abril, quatro trabalhadores da ONU foram mortos na violência do Sudão.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News