EUA afirmam que navio partiu da África do Sul carregando armas para a Rússia

Governo sul-africano determinou a abertura de uma investigação, sob o risco de ser sancionado pelo Ocidente por apoiar Moscou

O governo norte-americano afirmou na quinta-feira (11) ter recebido informações seguras de que um navio russo usou um porto da África do Sul para embarcar um carregamento de armas com destino à Rússia no final do ano passado, com a guerra da Ucrânia já em andamento. As informações são da agência Reuters.

“Entre as coisas que notamos estava a atracação do navio de carga russo Lady R na cidade de Simon entre 6 e 8 de dezembro de 2022, que estamos confiantes de que carregou armas e munições quando voltava para a Rússia”, afirmou o embaixador dos EUA na África do Sul, Reuben Brigety.

Brigety classificou o possível envolvimento da África do Sul com a Rússia como “inaceitável” e disse que altos funcionários do governo norte-americano manifestaram “profunda preocupação” com o fato de o país desrespeitar sua política declarada de não-alinhamento.

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, em fevereiro de 2021 (Foto: GovernmentZA/Flickr)

Na tentativa de acalmar os ânimos, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa disse que iniciou uma investigação independente, a ser liderada por um juiz aposentado. Questionado no parlamento nacional por um membro da oposição política local, ele não negou nem confirmou a informação.

Paralelamente, o governo sul-africano disse que a questão já havia sido debatida com Washington e manifestou desconforto com as declarações de Brigety.

“Os comentários do embaixador minam o espírito de cooperação e parceria que caracterizou os recentes compromissos entre funcionários do governo dos EUA e uma delegação oficial sul-africana”, disse a presidência em seu comunicado.

Sanções ocidentais

Além de colocar em xeque a posição oficial de neutralidade da África do Sul no conflito, a informação gera a possibilidade de que o país seja sancionado pelo Ocidente, que proíbe não apenas a entrega de armas a Moscou, mas de qualquer artigo que tenha potencial uso militar. Nações punidas acabam por ser excluídas dos principais mercados globais, tornando-se páreas no comércio internacional.

O Irã, que já era alvo de duras sanções norte-americanas devido a seu programa nuclear, sofreu novas restrições comerciais durante a guerra da Ucrânia porque vem fornecendo drones a Moscou.

Mesmo a China, principal aliada da Rússia, mostra-se reticente em equipar as tropas de Vladimir Putin, mediante o risco de sanções. No mês passado, Beijing voltou a afirmar que não entregaria armas a nenhuma das partes envolvidas na guerra da Ucrânia.

Apesar da posição oficial chinesa de não-alinhamento, há indícios de que empresas chinesas ajudaram a equipar as forças armadas russas, embora não seja possível responsabilizar diretamente o governo.

No começo de fevereiro, reportagem do Wall Street Journal (WSJ) revelou que foram enviados, a partir de Beijing, itens proibidos destinados a empresas de defesa do Kremlin embargadas pelos EUA. Na lista estariam equipamentos de navegação, tecnologia de interferência e peças de caças.

Mais tarde, em março, o site Politico revelou ter analisado uma série de documentos comerciais e alfandegários apontando que entidades russas receberam rifles de assalto, coletes à prova de bala e peças de drones de empresas chinesas no ano passado, já com a guerra em andamento.

Os documentos em questão, cedidos pelo ImportGenius, um agregador de dados alfandegários, mostram que o armamento de uso militar foi entregue como sendo “rifles de caça” usados por civis. Eles partiram da China North Industries Group Corporation Limited, uma empresa de defesa terceirizada que serve ao governo chinês, e foram recebidos pela russa Tekhkrim em junho de 2022.

As armas listadas nos documentos são rifles de assalta CQ-A, cujo projeto é baseado no norte-americano M16. Tais armamentos são usados por forças de segurança paramilitares chinesas e pelas forças armadas do Sudão do Sul e das Filipinas.

Os dois casos não deixam claro que Beijing tem fornecido armamento em grande escala a ser utilizado pelas forças armadas da Rússia na guerra. Mas os itens são considerados de uso duplo, com funções inclusive militares, e estão inseridos nas sanções ocidentais impostas à Rússia em função da guerra.

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