Irã usa companhia aérea estatal e navios para entregar drones militares à Rússia

Armamento é transportado por via aérea e por embarcações que cruzam o Mar Cáspio, desrespeitando assim as sanções ocidentais

O governo do Irã tem usado aviões de uma companhia aérea estatal e navios para transportar drones que vêm sendo usados pelas forças armadas da Rússia na guerra da Ucrânia. A revelação foi feita por fontes iranianas ao jornal britânico Guardian.

Moscou teria enviado a Teerã uma delegação com dez representantes em novembro de 2022. A missão deles era analisar os diversos modelos de drones produzidos no Irã e escolher quais seriam adquiridos pela Rússia para serem usados no conflito.

Um dos modelos selecionados foi o Mohajer-6, projetado para voar em grandes altitudes, disparar bombas e retornar à base depois da missão. Também entraram na lista de compras do presidente russo Vladimir Putin os modelos Shahed 191 e 129, drones kamikazes que se destroem durante o ataque.

O antigo modelo 129 do drone iraniano Shahed (Foto: WikiCommons)

Atualmente, os drones suicidas têm se tornado menos efetivos porque realizam voos mais baixos, facilitando assim o trabalho das forças de Kiev de contê-los. Então, Moscou passou a se focar no modelo mais avançado, que é mais difícil de ser derrubado. Estratégia semelhante à usada por Kiev com os drones turcos Bayraktar TB2, desde o início do conflito uma das principais armas ucranianas.

Para negociar os veículos não tripulados, Moscou e Teerã precisam driblas as sanções ocidentais, que impedem países de todo o mundo de fornecer à Rússia armas e outros equipamentos de uso duplo, que possam ter função também militar.

A maioria dos drones foi levada por um navio iraniano através do Mar Cáspio, que liga os dois países. Durante o trajeto, o armamento foi transferido para um navio da marinha russa. Os demais itens foram transportados por uma companhia aérea do governo do Irã, sendo que a última entrega registrada teria ocorrido no dia 20 de novembro.

Aliança militar

No final de 2022, autoridades norte-americanas haviam dito que as forças armadas russas receberam centenas de UAVs (veículos aéreos não tripulados, da sigla em inglês) de Teerã. Além do material importado, os governos de Irã e Rússia teriam firmado um acordo para que Moscou passasse a produzir, com base em projetos iranianos, seus próprios drones de ataque.

Os contatos entre os dois governos, segundo Washington declarou, teriam se iniciado em junho, já com a guerra em andamento. Uma informação diferente foi fornecida por Hossein Amirabdollahian, ministro das Relações Exteriores iraniano. No ano passado, ele desmentiu a denúncia de que seu país forneceu inclusive mísseis balísticos a Moscou. E afirmou que, no caso dos drones, o negócio foi fechado antes do conflito.

“Os comentários sobre a parte dos mísseis estão completamente errados, e a parte dos drones está correta. Demos um número limitado de drones à Rússia meses antes da guerra na Ucrânia”, declarou Amirabdollahian, segundo a agência Al Jazeera.

Os drones kamikazes iranianos usados por Moscou atacam não apenas as tropas de Kiev, mas também a infraestrutura essencial ucraniana. O resultado é um país sem energia elétrica, água potável nas torneiras e gás para manter seus cidadãos aquecidos durante o inverno que se aproxima.

Diante desse cenário, o ministro iraniano deu a entender que seu governo se opõe ao uso dos drones no conflito. “Enfatizamos às autoridades ucranianas que, se houver evidências sobre o uso de drones iranianos na guerra da Ucrânia pela Rússia, eles devem nos apresentar”, afirmou. “Se nos for provado que a Rússia usou drones iranianos na guerra da Ucrânia, não ficaremos indiferentes”.

O governo dos EUA, porém, diz ter evidências de que o Irã age de maneira diversa. Inclusive, teria enviado especialistas para orientar as tropas russas sobre o funcionamento dos drones. John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, declarou em outubro que um “número relativamente pequeno” de instrutores da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) esteve na Ucrânia.

Devido à aliança militar entre Moscou e Teerã, o governo norte-americano impôs uma série de sanções a empresas iranianas acusadas de fazer parte das negociações pelos drones.

A lista de companhias sancionadas é encabeçada pela Shahed Aviation Industries Research Center, responsável pelo projeto e produção dos UAVs da série Shahed. Outras duas empresas, a Success Aviation Services FZC e a i Jet Global DMCC, foram sancionadas por facilitar a transferência dos drones.

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