Os EUA estão articulando um acordo de paz entre a República Democrática do Congo e Ruanda que exige, como condição prévia, a retirada total das tropas ruandesas do leste congolês, onde combates intensos envolvem o grupo rebelde M23. A proposta tem gerado desconforto em Kigali, que considera os grupos armados baseados no território congolês uma ameaça existencial. As informações são da agência Reuters.
O governo de Donald Trump conduz as negociações, com o objetivo de encerrar os confrontos e atrair bilhões de dólares em investimentos ocidentais para a região, rica em minerais estratégicos como ouro, cobalto, tântalo, cobre e lítio. Massad Boulos, assessor especial de Trump para assuntos africanos, declarou em maio que Washington pretendia concluir o acordo “em cerca de dois meses”.

Um rascunho do acordo, obtido pela Reuters e confirmado por quatro fontes diplomáticas, determina que Ruanda retire tropas, armamentos e equipamentos do território congolês antes da assinatura. O texto também propõe a criação de um “Mecanismo Conjunto de Coordenação de Segurança”, com observadores militares estrangeiros, para monitorar a presença de milícias ruandesas no Congo.
Analistas e diplomatas estimam que entre sete mil e 12 mil soldados ruandeses tenham sido deslocados para a região nos últimos meses em apoio ao M23, que protagonizou uma ofensiva relâmpago e tomou as duas maiores cidades do leste congolês. Ruanda nega envolvimento direto e sustenta que suas ações são de autodefesa diante do avanço do Exército congolês e de milícias hutus.
“Exigimos a retirada total das tropas ruandesas como pré-condição para assinar o acordo e não faremos concessões”, disse o presidente congolês Félix Tshisekedi. Até a semana passada, Ruanda ainda não havia respondido formalmente à proposta dos EUA, embora o chanceler Olivier Nduhungirehe tenha confirmado que delegações técnicas de ambos os países se reunirão em Washington nos próximos dias.
O esboço do acordo também sugere que o grupo rebelde M23 participe de um diálogo nacional “em pé de igualdade com outros grupos armados não estatais da RDC”, concessão considerada significativa por Kinshasa, que vê o M23 como um grupo terrorista e braço de Ruanda.
Em paralelo, A RD Congo conduz negociações diretas com o M23, mediadas pelo Catar. Um novo projeto de acordo foi apresentado às delegações em Doha, mas ainda não houve avanços concretos. “Pouco progresso foi feito em direção a um acordo final que leve o M23 a ceder território”, disse um representante rebelde.