Fake news causam mortes na RD Congo, diz brasileiro que lidera missão de paz da ONU

General Marcos de Sá Affonso da Costa diz que informações imprecisas que circulam na internet desestabilizam o país africano

Teorias da conspiração, rumores e informações fabricadas afetam a segurança e aumentam o número de mortes e a desestabilização na República Democrática do Congo. A afirmação é do general brasileiro Marcos de Sá Affonso da Costa, que comanda a Monusco, missão de paz da ONU (Organização das Nações Unidas) no país africano.

O militar, que dirige mais de 16 mil policiais e militares, diz que as fake news (notícias falsa, em tradução literal) são um grande problema para o trabalho dos boinas-azuis. A Monusco enfrenta mais de cem grupos rebeldes no país africano. As fake news são usadas por elementos associados à atividade criminosa, ao terrorismo e ao roubo de recursos, segundo o comandante das tropas.

“O uso das redes sociais aqui é muito intenso. Então, as pessoas comunicam muito por WhatsApp, o aplicativo, e de qualquer forma produzem pequenos vídeos. Muitas vezes, os vídeos podem até ter imagem verdadeira, mas deturpada no tempo e no espaço, ou seja, coisa que aconteceu no passado como se fosse hoje. E aquilo acaba criando pânico e um movimento contra a presença das Nações Unidas em certas situações”, diz Affonso da Costa.

O general brasileiro Marcos de Sá Affonso da Costa e soldados da Monusco na RD Congo (Foto: ONU News)

Não se sabe ao certo o total de vítimas como resultado de informações falsas nas redes sociais, ou mesmo ao uso indevido da mídia tradicional. Mas o oficial defende que se aumente a ação estratégica para avaliar e atuar na situação. Affonso da Costa contou que são vários exemplos recentes.

“Em um pouso de um helicóptero nosso, estávamos num determinado local e estávamos indo lá para fazer, imagine, uma evacuação de pessoas feridas da comunidade. Circulou através do ‘ouviu falar’ que alguém associou aquilo à ONU trazer terroristas da ADF (Forças Democráticas Aliadas, da sigla em inglês)”, conta, citando o grupo que se diz associado ao Estado Islâmico (EI). “As pessoas vão para o local de pouso, não sabendo direito. Umas mais violentas e outras menos. Aquilo degenerou em violência, e o helicóptero não pousou. É evidente que quem necessitava de apoio médico acabou não recebendo”.

Ações hostis à presença de boinas-azuis marcaram as últimas três semanas na RD Congo. A piora desses atos obrigou a mobilização de forças de paz para a cidade de Goma, capital de Kivu Norte, no leste do país, após quatro mortes entre soldados de paz e 35 baixas civis durante protestos.

Terroristas infiltrados

O general atribui o aumento da violência aos grupos armados, cujos elementos se infiltraram entre os manifestantes. Para o comandante da força internacional, não há dúvidas de que o ambiente gerado pelas notícias falsas aumentou a violência. 

“O pior é quando aquilo é fabricado com intento de desestabilizar. Os grupos armados mais organizados fazem pleno uso da falsidade e do boato através das redes sociais. De mídias, jornais e notícias em rádios locais. Na comunicação estratégica nós temos que vencer isso, porque está trazendo, realmente, um dano às operações. Acaba revertendo contra nossa ação, porque nós estamos aqui para proteger civis. Não podemos atuar numa região por causa disso. Na verdade, quem está sofrendo é a população”, diz. 

O general revelou que as operações de manutenção da paz estão voltando ao normal após os protestos contra a ONU que marcaram as últimas semanas no leste da República Democrática do Congo.  As forças militares e policiais congolesas recuperaram o controle da situação de segurança, segundo ele. 

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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