Governo do Mali pretende negociar com extremistas para tentar encerrar conflitos

Principal órgão islâmico do Mali deve se sentar com facções locais ligadas à Al-Qaeda, iniciativa reprovada pelo maior aliado militar do país, a França

O governo do Mali deu início a um processo que pode levar a um acordo de paz com grupos extremistas locais vinculados à Al-Qaeda, a fim de encerrar conflitos armados que já duram quase dez anos entre jihadistas e forças de segurança nacionais. As informações são da agência catari Al Jazeera.

O Ministério dos Assuntos Religiosos encarregou o Alto Conselho Islâmico, principal órgão islâmico do país, a sentar-se à mesa com representantes das facções locais. E as conversas têm o aval do governo militar encabeçado pelo coronel Assimi Goita, que anteriormente chegou a negociar com um esquadrão de mercenários, o Wagner Group, a fim de fortalecer o combate ao extremismo.

“O ministro se reuniu com o Alto Conselho Islâmico na semana passada para informá-los sobre o desejo do governo de negociar com todos os grupos radicais do Mali, [incluindo] Iyad Ag Ghali e Amadou Koufa”, disse o porta-voz do ministério Khalil Camara.

Assimi Goita, coronel que governa o Mali (Foto: reprodução/twitter.com/PresidenceMali)

Ag Ghali é o chefe do Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM, na sigla em francês), grupo jihadista do Mali afiliado à Al-Qaeda, enquanto Amadou Koufa lidera a mais importante milícia local subordinada ao GSIM. Ambos são frequentemente alvos de campanhas militares por parte do exército da França. Grupos extremistas estrangeiros que atuem no país, porém, não farão parte da negociação.

Também conhecido pelo nome em árabe Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM), o GSIM lidera a principal rede jihadista do Sahel.

Mohamed Kimbiri, um oficial sênior do Alto Conselho Islâmico, confirmou ter sido o encarregado de negociar. “A única diretriz que recebemos é negociar apenas com os malianos”, disse ele. “Os outros [extremistas] nós consideramos invasores”.

Desde já, a iniciativa é reprovada pelo principal aliado militar ocidental do país, a França. Atualmente, há um processo de redução de tropas francesas no Mali, por ordem do próprio presidente francês Emmanuel Macron, já que há um amplo consenso de que a intervenção não estaria tendo êxito. Anteriormente, Paris deixou claro que jamais aceitaria dar suporte a um governo que aceite negociar com grupos terroristas.

Por que isso importa?

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em agosto do ano passado o quarto golpe militar na sua história, gerando uma turbulência política que dificulta o combate aos insurgentes.

Especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada na região, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas e a consequente explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares. Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas, e o processo em curso de redução das tropas franceses, que atuam no país desde 2013, tende a piorar a situação.

Os conflitos, antes concentrados no norte do país, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. A região central do Mali se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra forças do governo.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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