Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News
Relatos recentes indicam que um hospital no norte do Darfur, no Sudão, foi atingido em meio ao aumento das hostilidades no país, deixando dois jovens mortos e alimentando novos receios de fome, segundo equipes de ajuda da ONU (Organização das Nações Unidas).
De acordo com o chefe de ajuda de emergência, Martin Griffiths, um “ataque” danificou o telhado da unidade de cuidados intensivos do Hospital Southern, na cidade de El Fasher, o único hospital em funcionamento no estado de Darfur do Norte, onde os suprimentos médicos estão perigosamente baixos.
Cerca de 800 mil pessoas vivem na cidade de El Fasher e arredores, onde “ inúmeras vidas estão em jogo. O Sudão está num ponto de inflexão”, disse Griffiths em mensagem no X, antigo Twitter, no final do domingo.
We have told all the parties how they should protect civilians from this carnage. We can now expect them to do what the world and international humanitarian law expect.
— Martin Griffiths (@UNReliefChief) May 12, 2024
El Fasher is home to 800,000 people. Countless lives are at stake.
Sudan is at a tipping point.
Cidade-chave em jogo
Numa atualização sobre as hostilidades, o gabinete de coordenação da ajuda da ONU (Ocha) informou que dezenas de civis foram mortos em novos combates intensos na sexta-feira (10) passada entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e os soldados da Força de Apoio Rápido (RSF) dentro e ao redor da cidade, a última em Darfur do Norte que ainda não está sob controle da RSF.
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“Os confrontos, incluindo ataques aéreos e uso de armas pesadas, começaram no meio da manhã na parte oriental da cidade de El Fasher e continuaram até as 18h30”, disse o Ocha. “Os confrontos se estenderam ao centro da cidade, aos arredores do mercado principal e aos bairros, resultando em civis mortos e feridos.”
Antes do último derramamento de sangue, os humanitários alertaram que meses de escalada de violência em torno da cidade de El Fasher estiveram na origem de obstruções “persistentes” ao acesso à ajuda que dificultaram o fluxo sustentado de ajuda e produtos básicos, “levando as pessoas à beira da fome”.
Quase 25 milhões precisam de ajuda
Só em Darfur, cerca de nove milhões de pessoas necessitam hoje de assistência humanitária, mas um número impressionante de 24,8 milhões em todo o Sudão, quase uma em cada duas pessoas no país, necessita agora de ajuda da ONU e dos parceiros.
A última avaliação dos níveis de fome no Sudão, realizada no final de março, já era alarmante, mesmo antes desta última escalada.
Revelou que 17,7 milhões de pessoas, mais de um terço da população do país, enfrentavam insegurança alimentar aguda (IPC3) ou pior, com o nível três indicando “Crise” e cinco indicando “Fome”.
Destas, 4,9 milhões de pessoas “estão à beira da fome”, alertaram os especialistas da iniciativa de Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar, respeitada mundialmente.
“Quase nove em cada dez pessoas no IPC4 estão em áreas afetadas por conflitos em Darfur, Kordofan, Cartum e al-Jazira. Com o início da época de escassez a partir de abril, a insegurança alimentar deverá piorar ainda mais”, ascrescenta a avaliação.
Milhões de vidas destruídas
De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), cerca de 570 mil pessoas foram deslocadas no estado de Darfur do Norte nos últimos 13 meses e 6,7 milhões foram deslocadas internamente, enquanto 1,8 milhões fugiram através da fronteira do Sudão, mostram dados da agência da ONU para os refugiados (Acnur).
Antes de relatos de novos confrontos no domingo (12) na cidade de El Fasher e arredores, o Ocha disse que um grande número de pessoas se mudou do leste e do noroeste para o sul.
Relatos da mídia citaram o diretor médico do hospital El Fasher Town descrevendo que os pacientes estavam sendo tratados em qualquer espaço disponível nas instalações, inclusive nas varandas. Ecoando preocupações sobre danos em equipamentos e suprimentos médicos, o diretor indicou que uma importante linha de abastecimento para o resto do Sudão havia sido cortada pela RSF.