Após 11 meses de guerra no Sudão, surge a ‘pior crise de fome do mundo’

Milhões enfrentam desnutrição e insegurança alimentar, enquanto a violência impede a entrega de ajuda humanitária

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Quase 11 meses depois do início da guerra no Sudão, trabalhadores humanitários da ONU alertaram na quarta-feira (6) que o conflito corre o risco de desencadear “a pior crise de fome do mundo”. O país do nordeste da África já sofre a maior crise global de deslocamento, adiciona o Programa Mundial de Alimentos (PMA). 

Desde abril de 2023, os combates entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) e o grupo conhecido como Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) deixaram milhares de mortos e oito milhões de deslocados. 

14 milhões de crianças

O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) também alertou que 14 milhões de crianças precisam de assistência e expressou preocupação de que o conflito possa ultrapassar as fronteiras do Sudão, ameaçando a estabilidade na região. 

Crianças sudanesas que fugiram do conflito e receberam abrigo no Chade (Foto: Unicef/Mahamat)

A diretora executiva do PMA, Cindy McCain, lembrou que há 20 anos Darfur foi a maior crise de fome do mundo e houve união para responder. “Mas, hoje, o povo do Sudão foi esquecido. Milhões de vidas, a paz e a estabilidade de toda uma região estão em jogo”, apontou.

A chefe da agência da ONU esteve no Sudão do Sul, onde se encontrou com famílias que fugiram da violência e do agravamento da situação de fome no vizinho do norte.

Refeições fora do alcance

De acordo com o PMA, menos de uma em cada 20 pessoas no Sudão pode pagar por uma refeição completa. Em todo o país, 18 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar aguda e cinco milhões enfrentam a fome. 

A agência da ONU ainda aponta que há dificuldades de movimento por conta da violência e pela interferência das partes do conflito. Além disso, o PMA afirma que falta financiamento e que a crise alimentar não se limita ao país, afetando mais de 25 milhões de pessoas no Sudão, Sudão do Sul e Chade

Assim, o PMA afirma que não consegue fornecer ajuda alimentar emergencial suficiente para as comunidades sudanesas. A assistência humanitária foi ainda mais comprometida depois que autoridades revogaram permissões para comboios entre fronteiras, forçando as equipes a interromper as operações do Chade até Darfur.

Com nove em cada dez pessoas que enfrentam a fome no Sudão presas em áreas que são, em grande parte, inacessíveis aos humanitários, o PMA fez um novo apelo para que os combates parem e para que todas as agências de ajuda tenham acesso necessário.

Inação afetará a região por anos 

A guerra fez cerca de 600 mil pessoas buscarem refúgio no Sudão do Sul e uma em cada cinco crianças em centros de trânsito na fronteira sofre de desnutrição, segundo o PMA.

Embora os deslocados representem uma pequena fração da população, os recém-chegados ao Sudão do Sul são mais de três em cada dez pessoas que enfrentam níveis catastróficos de fome.

O PMA afirma que tem feito grande esforço para atender à escala da necessidade. A agência da ONU anunciou no início deste ano que enfrenta uma lacuna de financiamento de US$ 74 milhões para a resposta à crise do Sudão, enquanto planeja atingir 4,2 milhões de pessoas em 2024.

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