Investigadores dizem que ‘já passa da hora para o término da guerra’ no Sudão

Bloqueio deliberado da ajuda aos civis, safras fracas, alta de preços e risco de uma catástrofe alimentar são motivos de alarme

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Um grupo de investigadores da ONU (Organização das Nações Unidas) ressaltou nesta quinta-feira (11) que “o povo sudanês está farto do conflito arrasador que vem assolando o país”. 

Em comunicado emitido em Genebra, a Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos das Nações Unidas para o Sudão fez um apelo às partes envolvidas no conflito para que se comprometam com um cessar-fogo imediato.

Acesso desimpedido à ajuda humanitária

Entre as outras medidas sugeridas para conter a crise estão “acabar com os ataques a civis e garantir o acesso desimpedido à ajuda humanitária”.

Para o presidente da missão, Mohammed Chande Othman, “já passou da hora da guerra parar”. Segundo ele, o povo sudanês “suportou o suficiente e as partes em conflito devem encontrar um rumo para a paz e respeito pelos direitos humanos”.

Crianças de um orfanato de Cartum, no Sudão, recebem abrigo e atendimento do Unicef (Foto: Unicef)

Os combates entre o Exército do Sudão e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) eclodiram em 15 de abril do ano passado. Milhares de pessoas foram mortas durante a crise que se transformou num desastre humanitário.

A missão, criada em outubro, apresentará um relatório detalhado ao Conselho dos Direitos Humanos na sessão do órgão prevista para o período entre setembro e outubro deste ano.

Violações dos direitos humanos  

Estima-se que mais de 8,5 milhões de pessoas fugiram das suas casas desde o início dos combates, sendo que 1,8 milhão atravessou as fronteiras do país. O grupo foi criado para apurar as alegadas violações dos direitos humanos e do direito humanitário internacional no conflito.

De acordo com a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), milhares de pessoas ainda deixam diariamente o país africano.

Na próxima segunda-feira (15), uma conferência humanitária internacional para o Sudão e nações vizinhas será realizada em Paris coincidindo com o primeiro ano do conflito. 

O evento coorganizado por França, Alemanha e União Europeia (UE) visa abordar a falta de fundos, quando somente 6% do US$ 2,7 bilhões foram colocados ao dispor da comunidade humanitária para enfrentar a crise neste ano.

Assistência destinada a civis 

Para a Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos sobre o Sudão, o Exército sudanês e os paramilitares “demonstraram pouca consideração pela proteção dos civis”. O grupo de especialistas também investiga relatos de ataques recorrentes contra não combatentes, escolas e hospitais.

O relatório inclui informações sobre assaltos a comboios de ajuda humanitária. Sobre este tópico, a investigadora Mona Rishmawi disse que as agências de ajuda “estão perseverando, apesar de ter havido ataques e saques de comboios humanitários, pessoal e armazéns”.

A perita, uma das três integrantes do grupo, disse que também estão sendo apurados relatos sobre “o bloqueio deliberado da assistência humanitária destinada a civis que vivem em áreas controladas pelo lado oposto”. 

Os especialistas dizem que estão preocupados com as colheitas fracas, o aumento dos preços dos cereais e o risco de uma catástrofe alimentar. Eles pediram que ambas as partes se empenhem com um processo de paz abrangente.

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