Israel aceita receber dois mil etíopes judeus após cinco anos de negociações

Sob Lei do Retorno, todos os judeus têm direito de emigrar para Israel, mas cota limitou entrada de etíopes no país

O governo de Israel aprovou o transporte de dois mil etíopes judeus para o país após duas décadas de negociação, informou o jornal norte-americano “The New York Times”.

Sob a Lei do Retorno, o país permite que judeus de todo o mundo se instalem em Israel. Mesmo assim, até então não havia concedido o direito ao grupo conhecido como Falash Mura.

O grupo reúne descendentes de judeus na Etiópia que, sob coação, se converteram ao cristianismo no início do século 19. Grande parte, contudo, ainda se identifica e mantém os costumes da religião judaica.

Isolados das principais correntes do judaísmo, os judeus da Etiópia foram aceitos por Israel ainda na década de 1970. Desde então, dezenas de milhares deixaram o país africanos para regressar ao Estado judeu.

Cidadãos judeus Falash Mura da Etiópia chegam a Tel Aviv em agosto de 2013 (Foto: Miriam Alster/JTA)

Um plano para receber os Falash Mura restantes foi instituído ainda em 2015, mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não deu continuidade ao projeto por, segundo ele, “restrições orçamentárias”.

O objetivo, à época, era permitir a entrada de até 10 mil pessoas até dezembro deste ano. Agora, apenas dois mil devem imigrar para Israel – fator que despertou a fúria da parcela etíope.

“Precisamos que todos os nossos irmãos e irmãs sejam trazidos para cá”, disse Kassahun Shiferaw, um ativista israelense de origem africana. “Permitir que apenas parte deles venha não é suficiente”.

Questão racial

Com cerca de 150 mil integrantes, a comunidade israelense com ascendência etíope denuncia a discriminação racial do país. Ao chegar em Tel Aviv, muitos relatam problemas para encontrar trabalho, altos índices de pobreza e desemprego e forte repressão policial.

“É incompreensível que a imigração de todo o mundo continue, enquanto cotas e limites são colocados apenas na imigração de judeus etíopes”, disse Shiferaw, que espera a migração dos irmãos e pais para Israel.

De acordo com a ministra israelense da Imigração, Pnina Tamano-Shata, o governo quer realocar outros sete mil etíopes para Israel entre 2021 e 2022. O restante poderá se instalar no país a partir de 2023.

O investimento do governo para o embarque da primeira leva será de mais de US$ 109,3 milhões. Eles receberão auxílios quando chegarem nas novas cidades. “Eles estão certos”, afirmou a ministra. “Precisamos trazer todos o mais rápido possível, mas só temos orçamento para dois mil agora”.

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