A Anistia Internacional (AI) denunciou na segunda-feira (10) o julgamento da jornalista marroquina Hanane Bakour por conta de postagens que ela fez em sua página no Facebook contra o partido no poder. A ONG de direitos humanos pediu às autoridades marroquinas que retirem as acusações imediatamente e definiu o caso que pode colocar Hanane na prisão como “absurdo”.
“É chocante, pesado e absurdo que um jornalista enfrente acusações criminais por causa de uma postagem no Facebook que criticava o principal partido político do Marrocos”, disse Heba Morayef, diretora regional da AI para o Oriente Médio e Norte da África.
Hanane, que trabalhava para o jornal digital Alyaoum24, enfrentou no começo desta semana o Tribunal de Primeira Instância da cidade de Sale, próxima à capital, Rabat. Foi a oitava vez que ela prestou contas à justiça marroquina desde que foi acusada de “publicar notícias falsas usando meios eletrônicos que prejudicam a vida privada” em 2021.
A jornalista está sendo julgada em liberdade e pode pegar até três anos de prisão, além de ter que pagar uma multa de até 20 mil dirhams (cerca de R$ 9,7 mil).
As acusações decorrem de uma denúncia feita pelo partido governista, a Assembleia Nacional dos Independentes (RNI na sigla em francês), em setembro de 2021.
Na época, Hanane escreveu em um post no Facebook que a eleição do novo presidente do conselho do partido na região de Guelmim-Oued Noun, no sul do Marrocos, falhou porque um membro de um partido aliado do RNI foi gravemente ferido por um tiro em sua casa.
“Como pode o presidente da região de Guelmim-Oued Noun, M’Barka Bouaida, membro do RNI, concordar em votar durante a presidência do conselho regional enquanto Abdelouahab Belfkih, ex-candidato à presidência do conselho, estava morrendo?”.
Segundo a AI, “amordaçar a expressão online e offline faz parte de uma repressão contínua à dissidência no Marrocos”. A ONG ainda observou que, somente em 2022, as autoridades marroquinas investigaram, processaram e prenderam pelo menos sete jornalistas e ativistas por criticar o governo, bem como pessoas que falaram online sobre religião ou expressaram solidariedade a ativistas.
“Hanane Bakour tem direito às suas opiniões, mesmo que os políticos se oponham a elas”, acrescentou Morayef.