Mais de 1,2 mil crianças morreram em meio ao colapso do sistema de saúde no Sudão

Combinação de sarampo e desnutrição, somada ao colapso do sistema de saúde em meio ao conflito, é fatal para os menores de cinco anos

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente em inglês pela ONU News

No Sudão devastado pela guerra, mais de 1,2 mil crianças menores de cinco anos morreram em campos de deslocados no espaço de quatro meses, devido a uma combinação de sarampo e desnutrição, disseram humanitários da ONU (Organização das Nações Unidas) na terça-feira (19).

De acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (UNCHR) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), as crianças eram refugiadas e viviam em nove campos no estado sudanês do Nilo Branco. 

O chefe dos refugiados da ONU, Filippo Grandi, insistiu que o mundo tinha “os meios e o dinheiro” para evitar cada uma dessas mortes. 

Ele apelou pelo fim dos combates e por mais apoio financeiro para a resposta de emergência no país. O Plano de Resposta Humanitária do Sudão da ONU para 2023, lançado em maio, continua a ser financiado apenas em 30%.

Crianças de um orfanato de Cartum, no Sudão, recebem abrigo e atendimento do Unicef (Foto: Unicef)
Surtos de doenças

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) afirmou que mais de 3,1 mil casos suspeitos de sarampo e mais de 500 casos suspeitos de cólera foram notificados de 15 de maio a 15 de setembro no Sudão, juntamente com surtos de dengue e malária. A agência da ONU apontou para um contexto de “aumento do risco epidemiológico” e desafios para o controle epidemiológico. 

O chefe de saúde pública do Acnur, Allen Maina, disse aos repórteres em Genebra que a situação “colocou os cuidados de saúde no país de joelhos”.

4 em cada 5 hospitais fechados

Segundo a OMS, cerca de 11 milhões de pessoas no Sudão necessitam de assistência médica. O líder da equipe de operações de saúde da agência da ONU para o país, Ilham Nour, disse que 3,4 milhões de crianças menores de cinco anos estão gravemente desnutridas e milhões de pessoas necessitam de cuidados para doenças crónicas, incluindo 8,5 mil pacientes que necessitam de diálise renal. 

Os últimos relatórios indicam que até 80% dos hospitais em estados afetados por conflitos não funcionam, disse Nour. Desde o início da guerra, a OMS verificou 56 ataques contra instalações de saúde, meios de saúde, transportes, profissionais de saúde e pacientes, em violação do direito humanitário internacional.

Mortes de recém-nascidos

A falta de acesso ao tratamento e os ataques “implacáveis” aos serviços de saúde e nutrição também provocaram um alerta do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) de que “muitos milhares de recém-nascidos” morrerão no Sudão até ao final do ano. 

O porta-voz da Unicef, James Elder, destacou as necessidades de cuidados das 333 mil crianças que nascerão no Sudão entre outubro e dezembro e das suas mães. Ele disse que os cidadãos mais jovens do Sudão podem estar ingressando “em um período de mortalidade sem precedentes” e alertou que há cada vez mais relatos de crianças recrutadas para grupos armados. 

Elder também descreveu a crise educacional, enquanto 12 milhões de crianças sudanesas esperavam pela reabertura das escolas.

Funcionários dedicados

O porta-voz prestou homenagem à coragem e resiliência dos trabalhadores da linha de frente do serviço público do Sudão e disse que enfermeiros, médicos, professores e assistentes sociais não recebem salário há meses, enquanto a inflação no país aumenta desenfreadamente. 

“E ainda assim eles aparecem para trabalhar”, disse Elder, acrescentando que seu caráter e dedicação “não podem reabastecer suprimentos ou consertar hospitais explodidos.”

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