Militares tomam Kivu do Norte e Ituri, províncias em conflito na RD Congo

Nova coordenação controlará o leste do país a partir desta quinta (6); prazo é de 30 dias ou 'até o restabelecimento da paz'

Militares devem assumir nesta quinta-feira (6) o comando das províncias Kivu do Norte e Ituri, regiões imersas em violência na República Democrática do Congo. A manobra do presidente Felix Tshisekedi, imposta na segunda (3), retirou as autoridades civis do poder e empurrou as regiões para um “estado de sítio”, reportou o queniano “Nation”.

A nova coordenação controlará a região por 30 dias ou “até o restabelecimento da paz”. Durante o período, um general das Forças Armadas e um da Polícia Nacional assumirão os postos de governador e vice, respectivamente. Assembleias estão suspensas e tribunais civis são substituídos por tribunais militares.

Pela Constituição congolesa, o presidente pode declarar estado de sítio se as circunstâncias ameaçarem a “independência e integridade” do território nacional e interromperem o funcionamento das instituições.

Militares assumem o comando de Kivu do Norte e Ituri, províncias em conflito na RD Congo
Militares da operação de paz da ONU prestam apoio a civis em meio a aumento da violência em Kivu do Norte, RD Congo, abril de 2021 (Foto: Reprodução/Twitter/Monusco)

A decisão vem na esteira da escalada de confrontos intercomunais em Kivu do Norte e Ituri após manifestações contra o governo e a Monusco (Missão das Nações Unidas na RD Congo), desde o início de abril. Há relatos de 90 mortos e dezenas de sequestrados, apontou relatório do monitor International Crisis Group.

A onda de violência deixou mais de 1,6 milhão de desabrigados e 2,8 milhões em vulnerabilidade extrema. Rica em minerais, Kivu do Norte divide a fronteira leste com Uganda, Ruanda e Burundi. A região não recuperou a estabilidade desde a guerra civil que assolou o país, entre 1996 e 2003. Em Ituri, a violência escalou no final de 2017.

O monitor Kivu Security Tracker aponta que 122 grupos armados estão ativos na região. O mais proeminente é a organização islâmica Forças Democráticas Aliadas, originária da Uganda e baseada na RD Congo desde 1995.

Fim da 12ª epidemia de ebola

Enquanto as forças militares da RD Congo se deslocam para o leste do país, o governo congolês anunciou o fim da 12ª epidemia de ebola. O último surto começou em uma aldeia de Kivu do Norte apenas três meses após o final da 11ª epidemia, em fevereiro.

Na última onda, seis pessoas morreram após serem contaminadas pelo vírus, disse o ministro da Saúde, Jean-Jacques Mbungani, na segunda (3), ao “Nation”. Segundo ele, os casos de ebola tiveram influência da Covid-19. “Não poupou o nosso país”, relatou.

Apesar da instabilidade de notificações, a RD Congo soma 30 mil casos confirmados de contaminação pelo coronavírus e 770 mortes. A resposta à epidemia de ebola, porém, conta com o apoio de vacinas e a experiência com pandemias já experimentada pelo país africano, que viveu três grandes surtos entre 2018 e 2020.

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