Governo da Etiópia corta internet do país à medida que protestos se intensificam

Etíopes protestam pela morte de cantor e ativista; rede já foi cortada em outras ocasiões e premiê defende medida

O governo da Etiópia cortou a internet nesta terça (30) diante da escalada nos protestos pela morte do cantor Haacaaluu Hundessa, na segunda (29). O serviço ainda não foi restabelecido, segundo o jornal The Washington Post.

A ONG Human Rights Watch aponta que o corte impossibilita o acesso à informação de quem são as pessoas mortas ou feridas nas manifestações.

A emissora de TV estatal da Etiópia, Ethiopian Broadcasting Corporation, afirma que mais de 80 pessoas já morreram nos protestos.

Conhecido por composições que mobilizaram o grupo étnico oromo a lutar contra a repressão, Hundessa foi morto a tiros em seu carro, na periferia da capital da Etiópia, Adis Abeba.

Governo da Etiópia corta internet à medida que protestos se intensificam
Cantor Haacaaluu Hundessa (Foto: Oromia Media Network/Reprodução)

O compositor e ativista etíope foi importante no movimento que levou à renúncia do ex-primeiro-ministro Hailemariam Desalegn, e abriu caminho para reformas democráticas no país.

De acordo com a agência de notícias Associated Press, nesta quarta (1º), a policia afirmou que três pessoas foram presas pela morte do cantor. O velório foi transmitido em rede nacional.

Não é a primeira vez que o governo etíope corta o acesso à internet após conflitos no país. Em 2019, Ahmed afirmou em conferência de imprensa que “se acharmos razão para cortar [a rede], cortaremos em todo o país”, segundo a HRW.

No início deste ano, o governo cumpriu a promessa e cortou, por cerca de dois meses, a rede na região de Oromia. Em 2018, o mesmo procedimento foi adotado após manifestações no leste do país.

Governo

A comoção relacionado à morte de Hundessa se soma aos desafios que o premiê Abiy Ahmed Ali, que também é de origem oromo, precisa enfrentar atualmente.

Enquanto evita a disseminação do coronavírus, o premiê que chegou ao poder em 2018 busca limitar os impactos econômicos e evitar tumultos em relação às eleições marcadas para agosto, agora adiadas.

Em 2019, Ali conquistou o Prêmio Nobel da Paz por ter iniciado importantes reformas para a paz e reconciliação na Etiópia, o segundo mais populoso da África e a maior economia da África Oriental.

No entanto, segundo o jornal alemão Deutsche Welle, muitos etíopes começam a ter dúvidas em relação ao futuro, após um período de esperança em relação ao premiê.

 O governo é acusado por oposicionistas de deter jornalistas, bloquear o acesso a internet e reprimir manifestantes. Grupos de defesa dos direitos humanos afirmam ainda que as forças de segurança do governo realizaram execuções extrajudiciais e estupros, além de detenções arbitrárias.

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