ONU quer resposta urgente para travar “alta exponencial” de cólera na África

OMS registrou 26 mil notificações e 660 mortes até 29 de janeiro em dez países africanos que enfrentam surtos desde o início do ano

A OMS (Organização Mundial de Saúde) informou que houve um crescimento considerável no número de casos de cólera na África neste ano, acompanhando o aumento da infeção ao nível global.

De acordo com a agência, houve 26 mil notificações e 660 mortes relatadas somente até 29 de janeiro em dez países africanos que enfrentam surtos desde o início do ano. Ao longo de todo o ano de 2022, quase 80 mil casos e 1.863 mortes foram registradas em 15 países afetados.

A agência da ONU (Organização das Nações Unidas) teme que, com a persistência dessa tendência de alta, o número de casos notificados em 2021, considerado pior ano de cólera na África em quase uma década, seja superado. A taxa média de letalidade supera os 2,3% de 2022.

A maior parte dos novos casos e mortes foi confirmada no Malaui, que enfrenta o pior surto da doença em duas décadas. Moçambique e Zâmbia também relataram casos recentemente. Outros países afetados são: Burundi, Camarões, República Democrática do Congo e Nigéria.

Na África Oriental, Etiópia, Quênia e Somália estão reagindo aos surtos em meio a uma seca prolongada e severa que deixou milhões de pessoas em extrema necessidade de assistência humanitária.

Vacinação contra cólera no Sudão do Sul, em 2015 (Foto: Flickr)
Apoio a resposta

A diretora regional da OMS para África, Matshidiso Moeti, lembrou que a agência apoia o reforço das principais medidas de controle para interromper o surto. O apelo aos países africanos é que aumentem o nível de prontidão no diagnóstico dos casos e montem uma resposta abrangente e oportuna.

Os esforços conjuntos estão centrados no aumento da vigilância de doenças, medidas de prevenção e tratamento, envolvimento das comunidades e coordenação com parceiros e agências de vários setores para melhorar o saneamento e fornecer água potável.

A agência enviou 65 especialistas a cinco países africanos, incluindo 40 para o Malaui, e desembolsou US$ 6 milhões para iniciar a resposta de emergência no país, no Quênia e em Moçambique.

Somente neste ano, cerca de 3,3 milhões de doses do imunizante contra a cólera já foram enviados a RD Congo, Quênia e Moçambique através do Grupo de Coordenação Internacional de Fornecimento de Vacinas.

Pressão no estoque

O grupo teve que adotar a abordagem de dose única em campanhas de resposta a surtos de cólera, suspendendo temporariamente o regime padrão de duas doses devido ao aumento global dos surtos que colocou enorme pressão sobre a disponibilidade de vacinas. Teme-se que um novo surto aprofunde a escassez.

Para Moeti, a cólera é um desafio tanto para a saúde quanto para o desenvolvimento. Ela alerta que todas as mortes pela doença podem ser evitadas e que os investimentos em melhor saneamento e acesso à água potável complementam formidavelmente as iniciativas de saúde pública para controlar e erradicar a cólera de forma sustentável.

O controle eficaz depende da implementação de medidas abrangentes, como vigilância epidemiológica e laboratorial aprimorada para detectar, confirmar e responder rapidamente a surtos, defende a OMS.

Os eventos de saúde ocorrem num contexto de eventos climáticos extremos, conflitos, surtos contínuos de doenças, como a poliomielite selvagem, e recursos financeiros limitados.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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