Orçamento anual do Al-Shabaab chega a US$ 150 milhões, de acordo com a ONU

Conselho de Segurança diz que grupo usa 25% do faturamento com armas e matou ao menos 500 pessoas em seis meses

O Al-Shabaab, grupo fundamentalista islâmico ligado à Al-Qaeda que atua sobretudo na Somália, tem um orçamento anual de até US$ 150 milhões. A informação consta de um relatório divulgado pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) na terça-feira (14).

O valor arrecadado pelo grupo extremista ao longo de um ano, que pode variar varia entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões, provém sobretudo de taxação de civis somalis. E uma parcela de ao menos 25% do orçamento é usada para a compra de armas.

Atualmente, o Al-Shabaab é alvo de uma grande operação de contraterrorismo realizada pelo governo da Somália com o apoio dos EUA. Washington havia decidido, durante o governo de Donald Trump, retirar suas tropas do território somali, mas Joe Biden reativou a missão e enviou cerca de 500 soldados ao país africano em 2022.

O ministro da Informação da Somália, Daud Aweisdiz, afirmou em coletiva de imprensa que somente nesta semana 200 terroristas foram mortos pelas forças de segurança somalis, segundo repercutiu a agência Anadolu.

As forças de Mogadíscio atacaram o grupo extremista em três Estados: Jubaland, Galmudug e Sudoeste. Uma operação em menor escala foi realizada na região de Mudug, onde as forças armadas conseguiram reconquistar importantes áreas antes dominadas pelos insurgentes.

“Este movimento visa a acelerar as operações militares para eliminar os terroristas e dar às pessoas mais oportunidades de participar das operações em andamento”, afirmou Aweisdiz.

Soldados do exército da Somália em ação contra o Al-Shabaab, em agosto de 2012 (Foto: AMISOM/Flickr)

Apesar da cruzada do governo, o Al-Shabaab continua sendo de longe o grupo terrorista mais forte no país. De acordo com o relatório da ONU, há atualmente entre sete mil e 12 mil indivíduos a serviço da facção, que continua colecionando triunfos.

“Os Estados-Membros avaliam que o grupo continua a alargar os seus avanços territoriais tanto internamente como nos Estados vizinhos, registando múltiplas incursões transfronteiriças na Etiópia“, afirma o documento.

As ações do grupo extremista deixaram ao menos 500 pessoas mortas nos últimos seis meses em território somali. A relação de vítimas inclui civis, funcionários do governo, soldados, policiais e forças de paz internacionais, segundo com o Conselho de Segurança.

Para se ter ideia da superioridade do Al-Shabaab frente a seu maior rival local, o Estado Islâmico (EI) tem atualmente na Somália entre 200 e 250 combatentes e restringe sua presença ao Estado de Puntland. Já o faturamento recente do EI foi de cerca de US$ 100 mil por mês, sendo que US$ 25 mil são habitualmente usados para financiar o Estado Islâmico-Khorasan (EI) no Afeganistão.

“Os Estados Membros observam, no entanto, que o grupo não tem capacidade para controlar grandes terrenos, devido aos ataques contínuos do Al-Shabaab, nem possui capacidade para realizar ataques sofisticados em grande escala”, diz o documento ao analisar a presença do EI no país africano.

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

Tags: