Polícia frustra ataque terrorista contra igreja evangélica em Uganda

Alvo de um extremista era a Catedral Lubaga Miracle Center, que fica localizada na capital Kampala e abriga até 15 mil pessoas

As autoridades de Uganda conseguiram deter no domingo (3) um terrorista que planejava realizar um ataque a bomba contra uma igreja evangélica em Kampala, capital do país africano. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

O alvo era a Catedral Miracle Center, que abriga até 15 mil pessoas. O homem foi preso já dentro do templo, e devido à ameaça de atentado a polícia realizou a evacuação de centenas de fieis.

“Realizamos a detonação controlada do artefato explosivo improvisado composto por pregos, uma bateria de motocicleta, um carregador e um aparelho telefônico que seria utilizado no ataque”, declarou o porta-voz da polícia local, Patrick Onyango.

Polícia de Uganda atua após explosão de bomba em Kampala, outubro de 2021 (Foto: Twitter/reprodução)

De acordo com o porta-voz, as autoridades receberam informações sobre o ataque e conseguiram agir a tempo de impedi-lo. A bomba estava dentro da mochila do terrorista, que foi parado, revistado e preso.

Sob o poder das autoridades, o homem afirmou que outros terroristas planejavam realizar mais três ataques em outros locais. “Ele está nos ajudando a localizar essas pessoas”, disse Onyango, acrescentando que a polícia emitiu um alerta para o risco de atentados em áreas densamente povoadas e centros comerciais.

Grupo suspeito

Embora nenhum grupo tenha assumido a autoria do atentado frustrado em Kampala, as suspeitas das autoridades recaem sobre um grupo local ligado ao Estado Islâmico (EI), as ADF (Forças Democráticas Aliadas, da sigla em inglês).

Trata-se de uma organização paramilitar originária de Uganda acusada de estar por trás de milhares de mortes nos últimos anos. O grupo nasceu em 1995, como oposição ao presidente Yoweri Museveni, e tem atuando majoritariamente em áreas remotas. Com o tempo, a facção ultrapassou a fronteira e passou a agir também na RD Congo.

O grupo foi colocado na lista de sanções financeiras por Washington, classificado como terrorista, e declarou publicamente ser um braço do EI, que por sua vez assumiu a responsabilidade por alguns de seus ataques.

Por que isso importa?

O Estado Islâmico (EI) passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes”. No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização”.

Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares”. Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.

Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou suas áreas de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.

O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz o relatório, citando a África como uma região de particular preocupação.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), os recentes anúncios do Tesouro causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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