Porto no Quênia reforça influência da China na África e pode ter desdobramentos militares

Investimento em infraestrutura dá vantagem estratégica a Beijing, que também amplia dependência econômica do continente

O Porto de Mombaça, no Quênia, tornou-se um ponto estratégico para a expansão da China na África, levantando preocupações sobre o alcance e os impactos da presença chinesa na região. A localização, no Oceano Índico, oferece acesso crucial às rotas marítimas que conectam os continentes asiático e africano, facilitando o transporte de mercadorias e a importação de recursos naturais. Um cenário que desperta o alerta entre nações ocidentais, sobretudo os EUA, quanto à crescente dependência econômica em relação a Beijing e às possíveis ramificações militares. As informações são do think tank Eurasia Review.

Nos últimos anos, a China investiu pesadamente em infraestrutura no Quênia, incluindo o desenvolvimento do porto e a construção da ferrovia que liga Mombaça à capital Nairóbi e a outras regiões do país. Financiada e construída por empresas chinesas, a obra ferroviária é um exemplo de como Beijing usa projetos de infraestrutura para consolidar sua influência em áreas estratégicas. Embora promovam o crescimento econômico local, esses investimentos muitas vezes vêm acompanhados de dívidas elevadas, levando à dependência financeira.

Analistas apontam que a importância geoestratégica de Mombaça coloca o porto no centro do braço marítimo da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), o megaprojeto chinês que busca criar uma vasta rede de rotas de transporte e comércio global. Com o controle de portos e ferrovias, a China aumenta sua capacidade de projetar poder na África Oriental, uma região rica em recursos e com posições estratégicas para rotas de petróleo e gás.

Porto de Mombaça, no Quênia (Foto: MEAACT Kenya/Flickr)

“Geopoliticamente, a China  busca contrabalançar a influência ocidental ao garantir parcerias de infraestrutura de longo prazo em toda a África”, diz o artigo. “Essas relações fortalecem a posição chinesa no comércio global, ao mesmo tempo que promovem dependências econômicas que apoiam suas ambições geopolíticas mais amplas. Isso garante que a China mantenha seu domínio nas principais cadeias de suprimentos e mercados emergentes em todo o continente.”

Especialistas em relações internacionais alertam que a presença intensiva de Beijing pode ter consequências de longo prazo para a soberania econômica e política dos países africanos. Em casos como o do Sri Lanka, que cedeu um porto estratégico à China devido a dívidas acumuladas, surgem temores de que nações africanas possam enfrentar situações semelhantes.

As altas dívidas contraídas para financiar projetos chineses podem abrir caminho para que os chineses assumam o controle de infraestruturas essenciais em solo africano. Em Mombaça, a presença da China ainda levanta preocupações sobre a possível ampliação de sua influência militar no continente, dada a posição estratégica do porto.

Embora o foco inicial seja comercial, a integração entre projetos civis e militares, incentivada pela estratégia chinesa nesse sentido, pode levar à instalação de estruturas que apoiem interesses militares chineses na região. Essa possibilidade preocupa os países ocidentais, especialmente os Estados Unidos, que veem uma crescente rivalidade com a China no continente.

O Porto de Mombaça representa mais que um simples ponto de conexão comercial para a China. A infraestrutura e a localização estratégica, combinadas com investimentos em transporte e logística, refletem a tentativa de Beijing de consolidar uma rede de influência que ultrapassa fronteiras econômicas, podendo impactar o equilíbrio de poder na África.

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