Presidente anuncia novas demissões e aumenta instabilidade política na Tunísia

Processo de derrubada do governo começou no domingo, quando Kais Saied destituiu o primeiro-ministro Hichem Mechichi

A instabilidade política na Tunísia aumentou um pouco mais na quarta-feira (28), quando o presidente Kais Saied demitiu mais um grupo de funcionários do governo. O processo de desmanche começou no domingo (25), quando o mandatário destituiu o primeiro-ministro Hichem Mechichi, suspendeu as atividades do Parlamento por 30 dias e concentrou em suas mãos quase todos os poderes do Estado.

Entre os altos funcionários do governo demitidos nesta quarta estão o procurador-chefe do exército, Taoufik Ayouni, o Diretor do Conselho do Primeiro Ministério, Moez Lidine Allah al Muqaddam, e o Secretário-Geral do Governo, Walid Dhahbi, segundo a rede pública de Tv da Turquia TRT World.

Kais Saied, eleito presidente da Tunísia em 2019 (Foto: Wikimedia Commons)

Além disso, Saide suspendeu a imunidade parlamentar dos legisladores e assumiu poderes judiciais. No dia 14 de julho, antes de derrubar o governo, ele também ordenou a abertura de uma investigação contra três partidos políticos suspeitos de receberem fundos estrangeiros antes das eleições de 2019, na qual ele saiu vitorioso.

A última democracia

“A Tunísia é a única verdadeira democracia que emergiu dos protestos da Primavera Árabe de 2010-11, que derrubaram ditadores em um punhado de países. Mas desde então tem sofrido”, diz um artigo da revista The Economist que resume a última década no país.

Desde os protestos de 2011, a Tunísia teve dez primeiros-ministros diferentes, que falharam em combater a corrupção e em estabilizar economicamente o país. Novato na política, o jurista Saied era uma aposta dos tunisianos para mudar a situação. O discurso anticorrupção e a rejeição ao sistema político tradicional permitiram a ele vencer o pleito com mais de 70% dos votos, segundo o jornal britânico Guardian.

No sábado (24), um dia antes de Saied derrubar o governo, os tunisianos foram às ruas protestar mais uma vez. Veio, então, a queda do primeiro-ministro e a suspensão do Parlamento. Para os partidos de oposição, sobretudo o islamista moderado Ennahda, as ações do presidente configuram um golpe de Estado.

A favor de Saied pesa o apoio do exército, que já agiu para impedir o acesso de deputados e outros representantes populares ao Parlamento. A população, dividida entre apoiar e contestar as medidas, aguarda a nomeação de um novo governo pelo presidente, que por ora atua no comando do Executivo, do Legislativo e de boa parte do Judiciário.

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