Rebeldes de Tigré começam a entregar armas como parte de acordo de paz na Etiópia

Ato é parte fundamental de um acordo assinado com o governo da Etiópia no final do ano passado, disse um porta-voz das autoridades rebeldes

Rebeldes da região de Tigré, na Etiopia, anunciaram nesta quarta-feira (11) que começaram a entregar suas armas pesadas. O ato é parte importante de um acordo de paz iniciado no fim do ano passado que busca encerrar quase dois anos de conflito armado ao norte do país. As informações são da agência Al Jazeera.

A entrega ocorreu na cidade de Agulae, que fica a cerca de 30 km da capital regional Mekelle, sob a supervisão de uma equipe de monitoramento composta por membros dos dois lados e um órgão regional, a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD, da sigla em inglês).

Os termos do acordo de paz, assinado no dia 2 de novembro com a articulação da União Africana (UA), incluem desarmar as forças rebeldes, restaurar a autoridade federal em Tigré e reabrir o acesso e as comunicações com a região, que está isolada do mundo exterior desde meados de 2021.

Tropas etíopes invadem região de Tigré e assumem comando da região

Exército de Tigré em novembro de 2020 (Foto: TV Tigray)

O conflito é marcado por atrocidades. Segundo investigadores de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), todos os combatentes cometeram abusos. O órgão de manutenção da paz ainda acusa o governo etíope de usar a fome da população como “arma de guerra”. A luta armada também tem impactado na taxa de mortalidade infantil, que aumentou quatro vezes em relação ao período pré-guerra.

“Tigré entregou suas armas pesadas como parte de seu compromisso de implementar o acordo Pretoria, que foi assinado entre o governo da Etiópia e os rebeldes”, tuitou nesta quarta Getachew Reda, porta-voz da TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), antigo partido político que no passado alcançou grande influência no cenário nacional etíope e, de quatro anos para cá, vinha sendo tratado como grupo terrorista pelo governo do primeiro-ministro Abiy Ahmed Ali.

“Esperamos e esperamos que isso ajude muito a acelerar a implementação completa do acordo”, acrescentou Reda.

A região já sente mudanças. O conflito está parado e os rebeldes anunciaram a retirada de 65% de seus combatentes do front.

O território também voltou a ter contato com o mundo externo. Mekelle foi conectada à rede elétrica nacional em 6 de dezembro. Já o principal banco da Etiópia, o CBE, comunicou em 19 de dezembro que estava retomando as operações em algumas cidades. As comunicações telefônicas com a região também começaram a ser restabelecidas.

O trabalho humanitário foi ampliado após o cessar-fogo, porém, ainda não há comida e ajuda médica para suprir a imensa demanda na região. Segundo o Programa Mundial de Alimentos da ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 90% dos 6 milhões de habitantes de Tigré precisam de ajuda alimentar urgente. 

Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes, que chegaram às regiões vizinhas de Amhara e Afar, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que em 2020 se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou a superar o exército nos confrontos armados e chegou a ameaçar rumar para a capital, sem sucesso. A situação estava relativamente calma em 2022 até agosto, quando nos confrontos eclodiram. Acredita-se que dezenas de milhares de pessoas tenham morrido no conflito, com milhões de deslocados das regiões de Tigré, Amhara e Afar.

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