O grupo M23, apoiado por Ruanda, se retirou das negociações de paz com o governo da República Democrática do Congo, interrompendo um processo que aconteceria em Angola. A Aliança do Rio Congo, que inclui a facção rebelde, citou como motivação sanções impostas a ela e a oficiais ruandeses pela União Europeia (UE). As informações são da agência Reuters.
Após um longo período de exigências por negociações diretas com o governo de Kinshasa, o M23 viu uma oportunidade quando o presidente da RD Congo, Felix Tshisekedi, mudou sua postura e concordou em enviar uma delegação para Luanda. Essa mudança foi motivada por derrotas significativas no campo de batalha e pela pressão do aliado angolano.
Agora, apesar da retirada do M23, a porta-voz de Tshisekedi, Tina Salama, afirmou que a delegação do governo ainda iria a Luanda: “Confirmamos nossa participação a convite dos mediadores”, disse ela.

As sanções da UE, as mais abrangentes até agora contra o M23 e Ruanda desde o início da ofensiva dos rebeldes este ano, foram destacadas por Zobel Behalal, especialista sênior da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional. “As sanções da UE são um reconhecimento de que os lucros dos recursos naturais são uma das principais motivações para o envolvimento de Ruanda neste conflito”, explicou.
Aliança do Rio Congo, por sua vez, emitiu comunicado justificando sua posição. “As sanções sucessivas impostas aos nossos membros, incluindo as promulgadas na véspera das discussões de Luanda, prejudicam seriamente o diálogo direto e tornam qualquer progresso impossível”, diz o texto.
Disputa por riquezas minerais
O conflito tem raízes nas consequências do genocídio de 1994 em Ruanda e na disputa por riquezas minerais. Desde janeiro, a situação se agravou rapidamente, com os combatentes do M23 capturando as duas maiores cidades do leste congolês, resultando em milhares de mortes e deslocamento de centenas de milhares de pessoas.
Ruanda nega as acusações de fornecer armas e enviar soldados para lutar ao lado do M23, alegando que suas forças estão agindo em legítima defesa contra o Exército congolês e milícias hostis a Kigali.
Paralelamente, Kigali cortou relações diplomáticas com a Bélgica, após críticas e chamados deste país por uma ação forte da UE. O Ministério das Relações Exteriores ruandês acusou a ex-potência colonial de “usar mentiras e manipulação para garantir uma opinião hostil injustificada de Ruanda.”
Em resposta, o ministro das Relações Exteriores belga, Maxime Prevot, declarou os diplomatas ruandeses persona non grata, descrevendo a ação de Kigali como “desproporcional”.