Relatório da ONU insta Etiópia a priorizar justiça para vítimas de abusos

País africano trabalha para implementar as medidas previstas no Acordo de Cessação das Hostilidades que põe fim a um longo conflito armado

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Um novo relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) pede ao governo da Etiópia que garanta que os esforços em curso para lidar com o legado de violações e abusos aos direitos humanos no país estejam fundamentados no direito internacional e focados nas necessidades das vítimas e suas famílias.

O texto, divulgado na quinta-feira (28) pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e pela Comissão Etíope de Direitos Humanos (EHRC, na sigla em inglês), apresenta descobertas de 15 consultas comunitárias.

A recolha de informação foi realizada de julho de 2022 a março deste ano, com mais de 800 participantes, incluindo 319 mulheres. Os participantes incluíram vítimas, deslocados internos, pessoas com deficiência, líderes tradicionais e religiosos e organizações da sociedade civil de base.

Refugiados de Tigré em alojamento do Unicef, abril de 2021 (Foto: Unicef/Mulugeta Ayene)

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, saudou a Etiópia por tomar medidas concretas para desenvolver uma política nacional de justiça transitória em conformidade com o Acordo de Cessação das Hostilidades.

Ele ressaltou a importância de que tais esforços sejam holísticos e consistentes com as normas e padrões internacionais de direitos humanos, com foco prioritário nas vítimas e nas populações afetadas, especialmente mulheres e meninas.

As descobertas do relatório apontam para um amplo consenso sobre a necessidade de implementar todos os componentes da justiça transitória de forma igualitária. Isso inclui responsabilização criminal, busca pela verdade, reparações e garantias de não recorrência, incluindo remédios eficazes para as vítimas, reformas legais e reconciliação.

Resolução pacífica de conflitos

Os participantes concordaram que, para a Etiópia quebrar o ciclo de violência e impunidade, é essencial que os processos de justiça transitória em andamento envolvam responsabilização criminal, inclusive por possíveis crimes sob o direito internacional, os quais não podem ser objeto de anistia.

O documento projeta ainda a necessidade de resolução pacífica de conflitos e do fim violência em curso, bem como de que sejam alcançadas soluções duradouras para deslocados internos, especialmente seu retorno seguro, voluntário e digno aos seus lares. Estes fatores são considerados como prioridades para o caminho da Etiópia em direção à paz, responsabilização e reconciliação.

Em todas as localidades, a maioria dos participantes enfatizou que estava pronta para contribuir significativamente para o processo de justiça transitória, inclusive envolvendo-se com instituições relevantes, desde que fossem independentes, competentes e operassem sem influência ou controle político. Eles ofereceram suas opiniões sobre a possível arquitetura institucional para liderar as iniciativas de justiça transitória.

O relatório é lançado dois anos após o Escritório de Direitos Humanos da ONU e a EHRC, em novembro de 2021, publicarem as descobertas de sua investigação conjunta na região de Tigré.

Entre outras medidas a análise recomendou a adoção de uma política de justiça transitória baseada em direitos humanos, holística e centrada na vítima. Esta recomendação foi posteriormente refletida expressamente no Acordo de Cessação das Hostilidades assinado em Pretória em novembro de 2022. 

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