Retirada francesa do Níger deixa vazio na luta contra o terrorismo na região do Sahel

Últimas tropas francesas deixaram o o país africano no fim de semana, ao mesmo tempo em que Paris fechou sua embaixada

Na última sexta-feira (22), a França oficialmente concluiu a retirada de suas tropas do Níger, após ser convidada a deixar o país pela nova junta local, que tomou o poder após um golpe de Estado na metade deste ano. A debandada encerra um capítulo de anos de apoio militar francês na região, e traz preocupações entre analistas sobre as consequências na luta contra a violência jihadista no Sahel africano. As informações são da agência Associated Press (AP).

Desde o golpe liderado pelo general Abdourahamane Tchiani em 26 de julho, sob a alegação da “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, as operações de contraterrorismo conduzidas pelos franceses, sob o comando do Estado-Maior nigerino, foram suspensas.

A saída da ex-potência colonial do Níger transcorreu no prazo estipulado pela junta, que cortou relações com Paris após o golpe. As últimas aeronaves militares e tropas francesas deixaram o país, sinalizando o fim de uma presença que teve forte impacto na segurança regional. Além disso, a França anunciou nesta semana o encerramento de sua missão diplomática em Niamei “por tempo indeterminado”.

Entre mil e 1,5 mil soldados franceses estavam posicionados em território nigerino, que havia se tornado um ponto estratégico crucial na batalha contra militantes ligados ao Estado Islâmico (EI) e à Al-Qaeda.

Soldado francês em ação pela Operação Barkhane sobrevoa o Níger (Foto: WikiCommons)

Durante uma visita a uma base na Jordânia na última quinta-feira, o presidente francês Emmanuel Macron revelou planos para uma significativa reconfiguração na presença militar da França no Sahel, descrito pela ONU (Organização das Nações Unidas) como uma região em crise: os que vivem lá são vítimas de insegurança crônica, choques climáticos, conflitos, golpes de Estado e o surgimento de redes criminosas e terroristas

“Decidi implementar algumas reconfigurações importantes”, afirmou Macron. “Embora continuemos a proteger nossos interesses na região, nossas forças armadas terão uma presença menos permanente. Serão mais móveis e menos expostas”, destacou o presidente.

A junta do Níger caracterizou o término da cooperação militar com a França como o início de “uma nova era” para os nigerinos. Via X, antigo, Twitter, os golpistas afirmaram que a segurança nacional “não dependerá mais de presença estrangeira”, e expressaram determinação em enfrentar desafios, consolidando “capacidades militares e estratégicas nacionais”.

Impactos

A derrubada do presidente Mohamed Bazoum, reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, causou grande impacto em toda a África Ocidental e abriu espaço para o aumento da influência da Rússia na região.

Enquanto o Ocidente condenava o golpe há seis meses, Evgeny Prigozhin, o falecido ex-chefe da organização paramilitar privada russa Wagner Group, que está operando no vizinho Mali, elogiou a tomada de poder e ofereceu os serviços de seus combatentes.

A retirada de missões militares estrangeiras já afeta a segurança no Níger, com um aumento nos ataques, segundo Oluwole Ojewale, do Instituto de Estudos de Segurança em Dakar. Ouvido pela AP, ele destacou a falta de capacidade militar do país para preencher a lacuna deixada pela retirada, resultando em ataques estratégicos por grupos armados que agora circulam livremente em áreas não governadas, levando a contínuos incidentes crescentes.

O país mais pobre do mundo, conforme classificação da ONU, luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para o Níger.

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