A junta militar do Níger anunciou nesta quinta-feira (3) que rompeu acordos militares com a França, ex-potência colonial, e demitiu embaixadores do governo anterior. Além disso, autoridades do regime golpista alertaram os cidadãos sobre ameaças de exércitos estrangeiros e espiões, enquanto as negociações regionais para resolver a situação não avançam. As informações são da agência Associated Press.
O anúncio, veiculado pela TV estatal, aprofundou o isolamento de Niamei após o golpe de Estado orquestrado na semana passada, afetando sua parceria de segurança com os Estados Unidos e aliados no Sahel, uma região atormentada por grupos extremistas islâmicos.
Atualmente, entre mil e 1,5 mil soldados franceses estão posicionados no Níger, que havia se tornado um ponto estratégico crucial na batalha contra militantes ligados ao Estado Islâmico (EI) e à Al-Qaeda.

Não há clareza sobre a data ou se as forças francesas sairão do Níger. Paris já afirmou que reconhece apenas a autoridade do presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum. Desde o golpe liderado pelo general Abdourahamane Tchiani em 26 de julho, sob a alegação da “deterioração da situação de segurança” no país devastado pela ação de grupos jihadistas, as operações de contraterrorismo conduzidas pelos franceses, sob o comando do Estado-Maior nigerino, foram suspensas.
Bazoum, ainda detido pelos soldados amotinados, fez um apelo através do jornal Washington Post, pedindo a ajuda de Washington e de seus parceiros.
A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), principal bloco econômico da região, definiu um prazo para a libertação do líder nigerino. Enviados foram designados para conduzir as negociações, mas elas foram interrompidas devido à impossibilidade de encontrar o líder golpista na capital. Em meio a esse dificuldade de estabelecer diálogo, o anúncio da junta gerou mais ceticismo sobre qualquer possibilidade de acordo.
Nesta semana, a CEDEAO afirmou que poderia intervir no Níger caso a junta não restabelecesse Bazoum até domingo (6). E para isso teria ajuda do Senegal, que anunciou que enviaria soldados para se juntar à Comunidade caso a organização decida intervir militarmente no Níger. No entanto, o bloco enfatizou que a ação militar seria considerada apenas como o “último recurso”.
Na quinta-feira, a junta militar bloqueou supostamente as emissoras de notícias internacionais francesas France 24 e Radio France Internationale, informou a rede Deutsche Welle. Um alto funcionário do Níger confirmou que as emissoras foram bloqueadas “por instruções das novas autoridades militares”. O Ministério das Relações Exteriores da França condenou a medida na noite de quinta-feira, reafirmando seu compromisso com a liberdade de expressão, imprensa e proteção dos jornalistas em um comunicado.
O país mais pobre do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para o Níger.