Após golpe no Níger, junta militar prende políticos e ganha apoio de ditadores vizinhos

Golpistas desafiam apelo internacional por democracia, enquanto regimes de Burkina Faso, Mali e Guiné endossaram a ação

Na segunda-feira (31), a junta militar que assumiu o poder central do Níger após um golpe de Estado deteve políticos importantes, em um movimento que contraria os apelos internacionais. A ação foi endossada por outros governantes militares na África Ocidental, que manifestaram apoio ao general Abdourahamane Tchiani, que se autodeclarou líder da nação. As informações são da agência Reuters.

Entre as figuras detidas estão os ministros de Minas e do Petróleo do governo deposto e o chefe do partido no poder, entre outros.

O gesto foi aplaudido por juntas dos países vizinhos Burkina Faso, Mali e Guiné, que manifestaram seu apoio aos líderes do golpe no Níger. Em um comunicado conjunto transmitido por emissoras estatais malineses e burquinense, foi alertado que qualquer intervenção militar em território nigerino seria considerada “uma declaração de guerra” contra esses dois países.

General Abdourahamane Tchiani (Foto: Office of Radio and Television of Niger (ORTN)/Captura de tela)

A derrubada do presidente Mohamed Bazoum, reconhecido como um aliado fundamental nos esforços ocidentais para combater a insurgência islâmica na região do Sahel, causou grande impacto em toda a África Ocidental e abriu espaço para o aumento da influência da Rússia na região.

A atmosfera de turbulência, que teve início na semana passada, está sendo monitorada pela comunidade internacional, dada a importância de promover a estabilidade e o respeito aos princípios democráticos.

Na segunda-feira (31), uma autoridade dos Estados Unidos afirmou que o golpe não foi completamente bem-sucedido e que existe ainda uma oportunidade para restabelecer Bazoum no poder. Essa posição também foi ecoada por França e Alemanha. Esses países expressaram a perspectiva de que a situação ainda pode ser revertida, e o presidente democraticamente eleito, restaurado em sua posição.

O país mais pobre do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para o Níger.

Condenações e sanções

Além da União Europeia (UE), que já anunciou que não irá legitimar os líderes da junta militar, a ONU (Organização das Nações Unidas) e a União Africana (UA) condenaram o golpe. Esta última inclusive pediu que os soldados envolvidos retornassem imediatamente aos quartéis. O órgão, composto por 55 Estados-membros representando os países do continente, também manifestou grande preocupação com o crescente ressurgimento de golpes militares na África.

A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), principal bloco econômico da região, tomou medidas punitivas, como a imposição de sanções que incluem a suspensão de todas as transações financeiras e o congelamento de ativos nacionais. Além disso, a Cedeao mencionou a possibilidade de autorizar o uso da força para restabelecer o presidente Bazoum, que continua retido em seu palácio.

O país mais pobre do mundo, conforme classificação da ONU (Organização das Nações Unidas), luta contra o alastramento do Boko Haram, ligado à Al-Qaeda, e do  ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental), ambos da Nigéria, que já expandiram sua atuação para o Níger.

Alemanha articula evacuação

O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha aconselhou seus cidadãos no Níger a aceitarem uma oferta das autoridades francesas para participarem dos voos de evacuação nesta terça-feira (1º), informou a Reuters.

Atualmente, há menos de cem cidadãos alemães no Níger, excluindo aqueles que estão no país como parte de uma missão militar.

Desde que a junta militar assumiu o poder no país da África Ocidental, as fronteiras para voos comerciais estão fechadas.

Wagner Group à espreita

Enquanto o Ocidente condena o golpe, Evgeny Prigozhin, chefe da organização paramilitar privada russa Wagner Group, que está operando no vizinho Mali, elogiou a tomada de poder e ofereceu os serviços de seus combatentes.

Já o presidente russo Vladimir Putin tem demonstrado interesse em expandir a influência de seu país na região.

Em resposta ao golpe, milhares de apoiadores da junta militar que assumiu o controle do país africano marcharam pelas ruas de Niamei, exibindo bandeiras russas e denunciando a antiga potência colonial, a França.

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