Sequestros são uma ameaça crescente para trabalhadores chineses na África

Forte presença econômica de Beijing no continente transforma seus cidadãos em um alvo preferencial dos criminosos

Sequestros com consequentes pedidos de resgate em dinheiro são um crime em ascensão no continente africano. Entre as vítimas preferidas dos criminosos estão os trabalhadores estrangeiros, que representam um ativo valioso, sobretudo no rico setor do petróleo. Os chineses, em particular, são um alvo cada vez mais comum, devido à forte presença econômica de Beijing na África. As informações são da rede Voice of America (VOA).

O problema tem sido mais notado na Nigéria, onde quadrilhas de “bandidos“, criminosos sem vínculo ideológico, têm nos sequestros com pedido de resgate sua principal fonte de renda. O Boko Haram e o ISWAP (Estado Islâmico da África Ocidental) também representam uma ameaça de segurança aos estrangeiros.

O governo chinês já notou o problema e realizou, no início de maio, uma videoconferência para debater a questão. Uma ata do evento elogia as autoridades nigerianas pela “destruição bem-sucedida de um grupo de gangues criminosas de sequestro”, admitindo ainda que “muitos cidadãos chineses que foram sequestrados foram resgatados”.

Presidente da China Xi Jinping (dir.) e o presidente nigeriano Muhammadu Buhari, em Beijing, 12 de abril de 2016. (Foto: Rao Aimin/Xinhua)

A China é um importante parceiro comercial da Nigéria, que em 2021 tinha a segunda maior reserva de petróleo do continente, atrás apenas da Líbia. No ano anterior, 2020, havia 8.616 trabalhadores chineses no país, de acordo com a Iniciativa de Pesquisa China-África.

Segundo Cobus van Staden, pesquisador sênior do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais, é possível explicar o risco elevado que os chineses correm na África. “Um dos fatores que contribuem para tudo isso é a percepção que você vê nos países africanos de que os chineses mantêm muito dinheiro à mão”, disse ele.

Van Staden afirma que não é possível mensurar o problema porque não há estatísticas. “Esses casos muitas vezes não são divulgados pelo lado da lei ou pelo lado chinês”, disse. “Sabemos, no entanto, que em alguns casos, em termos de como os chineses lidam com isso, eles pagam o resgate. Acho que em alguns lugares as empresas estariam mais propensas a pagar resgates do que as embaixadas”.

Embora pareçam disposta a pagar pela liberdade de seus funcionários, muitas empresas preferem a precaução e passaram a contratar firmas privadas de segurança armada. Ainda assim, Chen Hanqing, engenheiro chinês na Nigéria, diz que se sente ameaçado constantemente. E relata o caso de um colega que foi sequestrado e descreveu a experiência como “o inferno na Terra“.

A República Democrática do Congo é outro país com altos índices desse tipo de crime. Em novembro do ano passado, por exemplo, cinco trabalhadores chineses foram sequestrados em uma mina de ouro. Casos assim levaram Beijing e emitir um alerta para que seus cidadãos evitem as províncias mais violentas do país.

Lucro x resgate

Para van Staden, tanto a videoconferência com o governo nigeriano quanto o alerta emitido na RD Congo mostram que os sequestros estão “claramente recebendo preocupação de alto nível” por parte do governo da China.

Já Oluwole Ojewale, analista do Instituto de Estudos de Segurança, da África do Sul, prevê que a situação levará muitas companhias da China a reservar uma verba especialmente para pagar resgates. Além de providenciar segurança armada.

Entretanto, Ojewale diz que nem o temor da violência levará a China a reduzir seus investimentos na África, um importante parceiro de Beijing na Nova Rota da Seda. Segundo ele, os lucros ainda superam os gastos com segurança. “Não acho que as empresas chinesas vão desistir, independentemente de quão volátil seja o ambiente”, afirmou.

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