Somália anuncia morte de mais de mil terroristas, inclusive dois líderes do Al-Shabaab

Um dos mortos, alvo de uma ofensiva nesta semana, foi identificado como Farah Yare, um 'comandante superior' do grupo extremista

O governo da Somália anunciou novas vitórias contra o Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda que tem sido o principal desafio de segurança do país africano. Como parte de uma megaoperação de contraterrorismo que vem sendo realizada desde o ano passado, mais de mil terroristas, entre eles dois líderes da organização, teriam sido mortos recentemente. As informações são do site Garowe.

Na quarta-feira (4), a Somália divulgou um balanço da operação segundo o qual 1.650 combatentes foram mortos nos últimos meses, a maioria nos estados de Galmadug e Hirshabelle. Entre os mortos estariam 19 comandantes, com outros 550 insurgentes feridos.

O governo disse, ainda, que três indivíduos em posição de liderança se entregaram às forças armadas, como parte de um programa do governo de anistia a insurgentes.

Também na quarta, Mogadíscio anunciou as mortes de dois líderes da organização extremista em uma ofensiva militar que contou com a colaboração de parceiros internacionais. Não está claro se o governo se referiu às forças da União Africana (UA) e dos Estados Unidos, principais aliados do exército somali na operação de contraterrorismo.

“As forças de segurança somalis, com o apoio de aliados internacionais, mataram cinco combatentes do Al-Shabaab num ataque perto de Raydabley, em Lower Shabelle. Os terroristas mortos incluíam Farah Yare, um comandante superior, e Mohamud Hassan Kadiye, um líder de clã que foi responsável pela extorsão de aldeões”, informou a mídia estatal.

Na luta contra o Al-Shabaab, as forças armadas norte-americanas são responsáveis sobretudo pelos ataques aéreos aos insurgentes. Durante o governo Trump, Washington chegou a retirar suas tropas da Somália, mas o presidente Joe Biden reativou a missão e enviou cerca de 500 soldados ao país africano em 2022.

Então, em março deste ano, os Estados Unidos anunciaram a ampliação do apoio militar ao país africano, com o envio de 61 toneladas de armamento e munição. O pacote inclui fuzis de assalto AK-47, munições e metralhadoras pesadas. 

As tropas da UA, por sua vez, estavam em processo de retirada do país africano, com planos de que os três mil soldados deixariam completamente a Somália até o final de setembro. Entretanto, segundo a revista The Economist, a evacuação foi interrompida a pedido do governo local, que temia não conseguir sustentar suas conquistas territoriais sem o apoio das forças de paz do bloco.

Soldados do exército da Somália em treinamento, imagem de 2012 (Foto: Amisom/Flickr)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Em agosto de 2023, o chefe de Estado afirmou que o objetivo é derrotar completamente o grupo até o início do próximo ano. “Queremos eliminar o Al-Shabaab do país nos próximos cinco meses”, disse Mohamud durante reunião de governo. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas.”

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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