Somália promete eliminar o Al-Shabaab nos próximos cinco meses

Governo iniciará a segunda fase de uma campanha de combate ao terrorismo e atacará os principais redutos do grupo, no sul do país

Hassan Sheikh Mohamud, presidente da Somália, prometeu que em até cinco meses seu governo terá derrotado completamente o Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda. As informações são da agência Reuters.

“Queremos eliminar o Al Shabaab do país nos próximos cinco meses”, disse Mohamud durante reunião de governo na última quinta-feira (17). “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas.”

A promessa surge no momento em que o governo inicia a segunda fase de uma grande campanha de combate ao terrorismo que vem sendo bem-sucedida no país nos últimos meses. O objetivo agora é agir no sul do país, onde estão os principais redutos do grupo extremista.

Durante a primeira fase da campanha, as forças de segurança nacionais se uniram a milícias étnicas para enfrentar o Al-Shabaab e obtiveram vitórias importantes, reconquistando muitas áreas antes controladas por insurgentes.

Ainda assim, a facção segue ativa no país, realizando mortíferos ataques contra civis e sobretudo forças do governo. Numa das ações mais recentes, em julho, um ataque suicida a bomba matou ao menos 30 soldados das forças armadas na capital Mogadíscio.

Na ocasião, o governo prendeu três oficias das forças armadas acusados de colaborar com o grupo terrorista. Eles teriam facilitado o acesso de um terrorista suicida a um campo de treinamento do exército, viabilizando assim o atentado.

Hassan Sheikh Mohamud, presidente da Somália: luta contra o terrorismo (Foto: Flickr)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio, a capital somali, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da UA. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia e para outros países fronteiriços.

O grupo, que é vinculado à Al-Qaeda, concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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