Uganda tem primeiro caso de possível pena de morte por ‘homossexualidade agravada’

Com base em uma lei de maio, cidadão de 20 anos foi denunciado por ter mantido relações sexuais com um homem de 41 anos

As autoridades de Uganda apresentaram a primeira denúncia contra um cidadão local por “homossexualidade agravada“, crime previsto em uma lei de maio deste ano e que pode ser punido com a pena de morte. As informações são da agência Reuters.

O réu é um cidadão local de 20 anos denunciado por ter mantido relações sexuais com um homem de 41 anos. A denúncia não explica porque o caso foi qualificado como “agravado”, que prevê a pena de morte.

“Por se tratar de um crime capital passível de julgamento pelo Tribunal Superior, a acusação foi lida e explicada a ele (o réu) no Tribunal de Magistrados no dia 18 (de agosto), e ele foi detido”, disse Jacqueline Okui, porta-voz do gabinete do diretor do Ministério Público.

Marcha em solidariedade à comunidade LGBT de Uganda em Londres, 2018 (Foto: WikiCommons)

Embora quatro pessoas já tenham sido acusadas com base na nova lei, este é a primeira vez em que um caso é inserido no artigo de “homossexualidade agravada”, segundo informou o advogado do réu.

A expressão em questão, que permite a pena capital, descreve atos sexuais cometidos sem consentimento ou sob coação, que venham a transmitir doenças ou que sejam praticados com crianças, pessoas com deficiência mental ou física.

A lei também proíbe a promoção da homossexualidade e criminaliza qualquer identidade sexual e de gênero que seja considerada “contrária às categorias binárias de masculino e feminino”.

Em resposta à lei, o governo norte-americano anunciou sanções de visto a autoridades ugandenses e ameaçou impor um pacote de outras penalidades ao país africano, que poderiam impactar inclusive na ajuda humanitária.

“Este ato vergonhoso é o mais recente desenvolvimento de uma tendência alarmante de abusos dos direitos humanos e corrupção em Uganda”, disse o presidente dos EUA, Joe Biden, em comunicado.

Já o secretário de Estado Antony Blinken prometeu “promover a responsabilização de funcionários de Uganda e outros indivíduos responsáveis ​​ou cúmplices de abusando de seus direitos humanos.”

Blinken acrescentou: “O fracasso de Uganda em proteger os direitos humanos das pessoas LGBTQI+ faz parte de uma degradação mais ampla das proteções dos direitos humanos que coloca os cidadãos de Uganda em risco e prejudica a reputação do país como destino de investimento, desenvolvimento, turismo e refugiados.”

Uganda é uma nação altamente conservadora e religiosa da África Oriental, e o sentimento anti-LGBT está profundamente enraizado na população. Antes da legislação, atos homossexuais já eram puníveis com prisão perpétua.

Quanto à pena de morte, ela segue prevista na legislação nacional, apesar de não ser aplicada desde 2018. Entretanto, o presidente Yoweri Museveni invariavelmente ameaça retomar a prática sob o argumento de conter a criminalidade.

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