Casos de varíola dos macacos em países não endêmicos levaram a um alerta em todo o mundo nas últimas semanas. Entretanto, na opinião do infectologista Stefan Cunha Ujvari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, a doença não possui nível de transmissão alto o suficiente para causar uma nova pandemia. Mas os sistemas de saúde devem estar preparados para lidar com o vírus.
“Esses casos atuais exigem das autoridades de saúde uma preocupação. Mas são casos não alarmantes para a população ou em termos de saúde pública”, afirmou. “Esse vírus é um DNA vírus que já está adaptado ao seu animal. Por acaso, ele tem a possibilidade de passar de humano para humano, mas não é uma transmissão tão grande a ponto de causar uma pandemia global”
A OMS informou que os pacientes confirmados tiveram apenas sintomas leves até o momento. Segundo o infectologista, os casos mais amenos são característicos nos humanos. Além disso, ele ressalta que a mortalidade é baixa, ficando entre 3% e 6% dos infectados.

“A característica dele (vírus) nos humanos é essa: causar o quadro leve, a pessoa fica com sintomas de qualquer virose. Logo após, do primeiro ao terceiro dia, ela começa a ter as lesões cutâneas. Quando a gente vai avaliar, a gente vê que a mortalidade na África, de todos os casos, varia de 3% a 6%. Mas essa é a taxa onde o vírus circula: em cidades pequenas, próximas a florestas”, disse o especialista.
Nos quadros mais graves, Stefan Cunha Ujvari explica que o vírus pode comprometer órgãos internos, principalmente em pacientes com baixa imunidade, e as lesões de pele podem se agravar para infecções bacterianas. “As pessoas podem ter complicações, não há infraestrutura adequada para o tratamento”, disse ele.
Varíola dos macacos x coronavírus
A chance pequena de a varíola dos macacos se transformar em emergência de saúde deve-se ao tipo de vírus que causa a doença. Diferente do coronavírus, a doença é transmitida por um vírus de DNA, que possui chances menores de mutações.
“Quando você tem um animal selvagem com a presença de um vírus, se esse vírus é um RNA vírus, ele sofre muito mais mutação do que um vírus DNA. O coronavírus é um RNA vírus, que sofreu mutação e, com isso, infectou o homem e se adaptou ao homem”, explicou Ujvari.
Segundo o infectologista, o vírus que causa a varíola dos macacos é presente nos roedores da África e, eventualmente, teve a capacidade de infectar o homem. Ele reforça que, como não está adaptado ao humano, a transmissão entre pessoas não teria potencial de causar grande disseminação.
Prevenção e tratamento
Ujvari afirma que não há necessidade de tomar “medidas drásticas” neste momento. Mas ressalta que os serviços de saúde devem ter medidas claras para conter a circulação do vírus, especialmente de monitoramento de pessoas que estiveram em locais endêmicos ou tiveram contato com pacientes.
Ele explica que a transmissão se dá por meio do contato com o líquido das pústulas cutâneas. Além da contaminação pela pele, também há possibilidade de infecção pelo uso compartilhado de toalhas e roupas e até mesmo pelo ar, que pode ser minimizado pelo uso de máscaras. Mas ele ressalta que também há diferenças claras neste tipo de transmissão.
“O vírus se dissemina pelo corpo e causa essas lesões na pele, com bolhinhas de água. Quando elas se rompem, elas eliminam o vírus. Por isso que o mecanismo principal é esse de contato próximo da pessoa, roupa de cama, toalhas. Além disso, o vírus, uma vez disseminado, compromete as mucosas também, então a pessoa pode eliminar o vírus através de gotículas, por isso a máscara para evitar o contágio”.
Sobre a vacina, o infectologista explica que as doses contra a varíola comum se mostram eficientes contra a varíola dos macacos por serem doenças com um “vírus ancestral comum”. Os dados da OMS apontam para uma eficácia de 85%.
Ujvari diz que uma campanha de vacinação contra a doença não seria fundamental, mas que as doses podem servir como “bloqueio” para aqueles que tiveram contato com infectados. Até o quarto dia após a infecção, os imunizantes podem evitar a evolução da doença ou amenizar os sintomas.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News