VOA: Jihadistas podem exigir negociação com multinacionais em Moçambique

Político do segundo maior partido do país vê uma possível tentativa de interlocução entre empresas de gás e terroristas

Este conteúdo foi publicado originalmente em VOA (Voice of Africa), em português

Os combates recentes entre insurgentes e as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique em torno da vila de Palma, na província de Cabo Delgado, continua a suscitar diversas leituras, principalmente devido à falta de informações, fruto do silêncio do Governo que, também, impediu o acesso à imprensa independente à região.

O antigo negociador da Renamo Raúl Domingos diz que o ataque à vila de Palma pode representar uma estratégia jihadista para forçar negociações com os magnatas que estão a investir no projeto de exploração de gás natural, enquanto a Renamo lamenta o que considera silêncio do Presidente da República relativamente à guerra em Cabo Delgado.

Raúl Domingos, conhecedor de assuntos de negociação, foi ele quem negociou o acordo de paz entre o Governo e a Renamo, não tem dúvidas que este grupo quer ameaçar o projeto de gás e disso tirar dividendos.

VOA: Jihadistas podem exigir negociação com multinacionais em Moçambique
Plataforma de extração da Total nos mares de Cabo Delgado, Moçambique (Foto: Total)

Ele refere que os insurgentes, tendo o porto de Mocímboa da Praia sob seu controle, tentam avançar agora para Palma, “como forma de forçar uma negociata com os magnatas que estão a investir no projeto de gás natural liquefeito, em Afungi”.

Raúl Domingos lamenta que as FDS no terreno tenham sido apanhadas de surpresa “e isso é um sinal negativo, porque elas deviam preocupar-se com vilas como Palma, Mocímboa da Praia e outras, que são estratégicas do ponto de vista econômico”.

No seu entender, os serviços de inteligência, “incluindo os Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE), não estão a funcionar, e esta é uma fragilidade que deve ser superada”.

or seu turno, o deputado da Assembleia da República e chefe do Gabinete de Informação da Renamo, José Manteigas, diz não saber como é que se poderá garantir a segurança das comunidades e o funcionamento da companhia Total, tendo em conta as fragilidades das FDS.

“O que estamos a notar é que as Forças de Defesa e Segurança, em vez de estarem na ofensiva, estão na defensiva e duma forma muito frágil”, lamentou aquele deputado.

Por outro lado, José Manteigas, falando em nome da Renamo, diz lamentar o silêncio do Chefe de Estado quanto à situação em Cabo Delgado. “Estamos em guerra”, realçou José Manteigas, acrescentando que, “infelizmente, o Presidente da República, não aciona os mecanismos para decretar esta guerra“.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino. Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos. Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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