Wagner Group é acusado de envolvimento no assassinato de civis no Mali

Soldados do exército do Mali são suspeitos de assassinar ao menos 13 civis em uma vila na região central do Mali no último domingo (30). Testemunhas afirmam que “soldados brancos” acompanhavam os militares na operação, o que sugere o envolvimento de mercenários russos do Wagner Group. As informações são do site The Defense Post.

Desde o ano passado, as forças armadas francesas iniciaram um processo de retirada de tropas do país africano devido a um desacerto entre os dois governos. A decisão gerou dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços na luta contra o jihadismo.

Então, o Wagner Group firmou um acordo o coronel Assimi Goita, que assumiu o poder no golpe de Estado de 2021, para assumir o vácuo deixado por Paris. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços dos mercenários seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.

A organização paramilitar russa é acusada de abusos em diversos países da África e do Oriente Médio onde atua, e no Mali não tem sido diferente. As mortes de domingo são apenas o mais recente episódio.

Um político local, que por segurança pediu para não ser identificado, diz que os “soldados brancos” chegaram à vila Guelledje acompanhando um grande número de soldados malianos. “Houve tiroteios e prisões. Contamos pelo menos 13 mortos”, disse a fonte. As informações foram corroboradas por uma segunda testemunha

Por sua vez, um funcionário de uma associação local que promove a cultura Peul, um dos principais grupos étnicos do país da África Ocidental, afirmou que o número de vítimas fatais é maior, ao menos 20. E afirmou que o episódio ocorreu em meio a uma operação de combate ao terrorismo.

“Estão nos colocando na mesma caixa. Nem todos os Peuls são jihadistas. Aqueles que foram mortos eram civis inocentes”, relatou o funcionário.

Combatentes do Wagner Group, organização paramilitar russa (Foto: reprodução/VK)
Por que isso importa?

O Mali vive um período de instabilidade que começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.

Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.

Em meio à instabilidade política, cresceu no país a presença de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e principalmente ao EI, o que levou a uma explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares, com milhares de civis entre as vítimas.

Os conflitos, antes concentrados no norte do Mali, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. Assim, a região central maliana se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra as forças do governo.

A situação torna-se ainda mais delicada devido à retirada das tropas da França, que até agosto deste ano colaboravam com o governo nacional nas operações de contraterrorismo. A decisão de Paris gera dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços obtidos na luta contra os insurgentes.

Quem assumiu o vácuo dos franceses foi o Wagner Group, um grupo russo de mercenários que firmou acordo de cooperação com Goita. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização russa seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.

Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane das forças armadas da França, a retirada de suas tropas não tem nenhuma relação com a chegada dos mercenários, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano desde o início deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.

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