América Latina e Caribe terão menor crescimento do PIB no mundo, aponta relatório

Banco Mundial diz que ventos contrários aumentaram, com perspectivas para 2023 bem mais sombrias que para 2022

O PIB (produto interno bruto) da América Latina e do Caribe crescerá 1,4% neste ano, uma taxa abaixo do esperado e a mais baixa globalmente. É o que aponta um novo estudo divulgado na terça-feira (4) pelo Banco Mundial, intitulado “O Potencial da Integração: Oportunidades Numa Economia Global em Transformação”.

“Embora numerosos fatores globais possam explicar as taxas modestas de crescimento em 2023, as previsões para o futuro apontam para o mesmo ritmo medíocre das últimas duas décadas, que continua insuficiente para reduzir a pobreza, promover a inclusão e aliviar as tensões sociais”, afirma o texto.

Moedas de real: crescimento da América Latina estagnou Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

A América Latina e o Caribe se recuperaram em grande parte da crise da pandemia de Covid-19 e vêm se mostrando relativamente resilientes. Tanto a pobreza quanto o emprego voltaram aos níveis pré-pandêmicos, e a inflação média, à exceção da Argentina, deve cair para 5% em 2023, depois de chegar a 7,9% em 2022.

Entretanto, a região voltou aos baixos níveis de crescimento da década anterior. Obstáculos como o preço mais baixo das commodities, as taxas de juros mais altas nos países desenvolvidos e a recuperação instável da China podem piorar as perspectivas econômicas da América Latina e do Caribe.

“Os ventos contrários aumentaram, e as perspectivas para 2023 são bem mais sombrias do que para 2022″, diz o documento

A previsão para 2024 e 2025 é de melhora, mas o crescimento de 2,4% projetado para os dois anos seguintes ainda é muito baixa para que sejam identificados progressos significativos na redução da pobreza. No caso do Brasil, a expectativa de crescimento é de 0,8% em 2023 e 2% em 2024 e 2025.

O Banco Mundial defende que, para impulsionar o crescimento, os países da região precisam manter a estabilidade macroeconômica, conquistada à base de muito esforço nas últimas duas décadas.

Um desafio é que, em média, o desequilíbrio fiscal permanece elevado, projetado para 2,7% do PIB em 2023. Além disso, estima-se que os níveis de dívida atinjam 64,7% do PIB neste ano, um pouco abaixo dos 66,3% de 2022.

As recentes falências de bancos nos Estados Unidos e na Europa trazem mais incertezas. Segundo o estudo, ainda se verão as consequências no sistema bancário e no fluxo de capital da América Latina e do Caribe.

O relatório também recomenda aproveitar as oportunidades únicas trazidas pela indústria verde e pelo nearshoring, ou seja, a aproximação entre cadeia produtiva e mercados domésticos.  

Nesse sentido, o estudo mostra uma tendência desfavorável na região, que continua sendo uma das menos integradas, enquanto a abertura comercial e os fluxos de investimento estrangeiro direto têm estado estagnados ou reduzidos nos últimos 20 anos.

“O usufruto dessa vantagem exigirá maior integração na economia global. No entanto, paradoxalmente, diante dessas oportunidades, a ALC (América Latina e Caribe) está se tornando menos integrada. A intensidade do comércio estagnou bastante, e o investimento estrangeiro direto (IED) diminuiu na maioria dos países”, afirma o relatório.

O documento sugere uma série de políticas públicas para fazer essa integração avançar, como políticas de longo prazo, redução de riscos sistêmicos, aumento de investimentos em infraestrutura tradicional e digital e melhoria do capital humano. Entre as recomendações de curto prazo estão promover avanços regulatórios alfandegários e de transporte, modernizar as agências de exportação e promover investimentos.

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