Chefe do Pentágono destaca ‘progresso impressionante’ da Somália contra o Al-Shabaab

Governo somali iniciou a segunda fase da operação de combate ao terrorismo que pretende exterminar o grupo até o ano que vem

A Somália conquistou um “progresso impressionante” na luta contra o Al-Shabaab, grupo extremista ligado à Al-Qaeda no país africano. A constatação é de Lloyd Austin, secretário de Defesa dos EUA, que no último final de semana se reuniu com o presidente somali Hassan Sheikh Mohamud. As informações são do site local Garowe.

“Acho que eles fizeram mais progressos no ano passado do que nos cinco anos anteriores”, disse Austin, que durante a viagem pela África também visitou Quênia e Djibouti. “Mas sabemos que o progresso nem sempre é uma linha reta. Podemos ver melhorias significativas num dia e desafios no dia seguinte.”

A avaliação positiva do chefe do Pentágono surge em um momento crucial da luta do governo somali contra os extremistas. No mês passado, Mohamud anunciou o início da segunda fase da operação de combate ao terrorismo no país, afirmando que o objetivo é derrotar o Al-Shabaab em 2024.

Para isso, conta com o apoio das forças armadas norte-americanas, responsáveis sobretudo pelos ataques aéreos aos insurgentes. Durante o governo Trump, Washington chegou a retirar suas tropas da Somália, mas o presidente Joe Biden reativou a missão e enviou cerca de 500 soldados ao país africano em 2022.

O presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud (esquerda), e o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, junho de 2023 (Foto: Alexander Kubitza/defense.gov)

Em março deste ano, os Estados Unidos anunciaram a ampliação do apoio militar ao país africano com o envio de 61 toneladas de armamento e munição. O pacote inclui fuzis de assalto AK-47, metralhadoras pesadas e munições. 

“A nossa abordagem em todo o continente sempre foi uma combinação de capacidades de defesa, desenvolvimento e diplomacia, e penso que é a combinação certa para garantir um impacto duradouro”, declarou Austin.

O secretário de Defesa, entretanto, advertiu que a derrota ainda não aconteceu, e o grupo extremista segue capaz de “exportar terror de espaços não governados.”

Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques contra órgãos e oficiais do governo e entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Civis são frequentemente vitimados pelos atentados. Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).

Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de civis atingidos pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.

Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.

Em agosto de 2023, o chefe de Estado afirmou que o objetivo é derrotar completamente o grupo até o início do próximo ano. “Queremos eliminar o Al-Shabaab do país nos próximos cinco meses”, disse Mohamud durante reunião de governo. “Se não os eliminarmos completamente, talvez haja alguns bolsões com alguns Al-Shabaabs inofensivos que não poderão causar problemas.”

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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