China planeja expandir pesca no Atlântico Sul com um porto no litoral brasileiro

Brasil faz parte de um ambicioso plano de expansão portuária de Beijing, cuja pesca praticamente acabou com as reservas no entorno do seu território

Os tentáculos da vasta frota comercial marítima chinesa se aproximam da costa brasileira. A segunda maior economia do planeta e a primeira no ranking da pesca, após praticamente secar as reservas no entorno do seu imenso território, busca ecossistemas com frutos do mar ainda abundantes ao redor do mundo, violando leis marítimas e impactando economias frágeis. E a América do Sul, em especial a região sul do Brasil, faz parte de um ambicioso plano de expansão de Beijing, detalha reportagem do jornal Maritime Herald.

Uma das recentes obsessões chinesas é o Atlântico Sul, onde a China chegou perto de um aperto de mãos com o governo uruguaio em 2013 para a criação de uma base de apoio para suas sofisticadas traineiras, altamente equipadas para a pesca em profundidade.

O local não poderia ser mais estratégico, já que a Argentina é um dos lugares preferidos dos chineses, onde 250 navios pescam lulas perto da ZEE (zona econômica especial), muitas vezes entrando ilegalmente em suas águas.  A proposta só não foi adiante devido à reação imediata e enérgica dos ambientalistas.

Frota chinesa está presente em todas as partes do mundo (Foto: WikiCommons)

Mas a China não jogou a toalha diante da negativa. Só mudou de foco e subiu a costa em direção ao Brasil, com os planos debaixo do braço, mais precisamente até o litoral gaúcho. Segundo a reportagem, a empresa que representa os interesses chineses colocou na mesa do governador do Rio Grande do Sul uma proposta semelhante à feita aos uruguaios, prevendo investimentos iniciais de US$ 30 milhões (cerca de R$ 160 milhões).

O litoral do RS seria a nova base para a expansão da atividade pesqueira chinesa. Os detalhes do projeto, garantem pessoas que tiveram acesso ao documento, seriam de causar espanto: zero restrições, permissão para tudo e números impressionantes, como a construção de uma frota de arrasto de 400 embarcações.

O temor é que aconteça no Brasil o que se vê no Equador, onde 260 navios chineses navegam no Oceano Pacífico entre a ZEE do país e a Reserva Marinha do Arquipélago de Galápagos, violando legislações de proteção a santuários marinhos.

A especulação chinesa até o momento só causou reação no Sindicato dos Armadores e das Indústrias Pesqueiras de Itajaí e Região (Sindipi), no Estado de Santa Catarina, que disparou uma nota sobre o assunto. “Segundo informações, com base em relatórios e publicações de outros países já explorados por essas embarcações, elas [embarcações chinesas] não praticam a pesca sustentável em suas operações, pelo contrário, pescam de forma predatória, processando tudo o que é pescado”.

Falando em processamento do pescado, a frota do país asiático conta com o apoio de embarcações maiores para reabastecimento e desembarque. Com tal suporte, os chineses têm autonomia para passar longos períodos no mar, transferindo toneladas de peixes para navios-fábrica.

Por que isso importa?

Desde 2013, a revista Nature alerta sobre maciça presença de barcos chineses nos oceanos e seus métodos agressivos da pesca de arrastão, capaz de provocar desastres no ecossistema marinho, como já visto recentemente na costa da África. Já revista Science publicou um estudo que aponta para um futuro distópico: a partir de 2048, as populações de peixes e outros animais marinhos “entrarão em colapso se a tendência de pesca e destruição do habitat continuar no mesmo ritmo”.

Os pesqueiros chineses são responsáveis pela maior fatia de IUU em todo o mundo. A ilegalidade leva a perdas econômicas para os governos, para a subsistência dos pescadores nativos e para as empresas da cadeia de abastecimento de pescado.

A conta é simples: ao retirar renda dos mercados locais e dos pescadores, a pobreza aumenta nessas regiões. E os países menos desenvolvidos são mais vulneráveis, devido à falta de recursos para combater e monitorar a pesca de forma eficaz.

Estima-se que 24% das capturas marinhas do Oceano Pacífico não são declaradas a cada ano. Destes, 50% são comercializados ilegalmente, causando de US$ 4,3 bilhões a US$ 8,3 bilhões em perdas de receitas diretas.

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